Na última semana, Joe Biden alegou que um tio foi derrubado em uma área cheia de canibais na Nova Guiné e nunca mais foi visto; líder do país criticou comentário
Na última quarta-feira, 17 de abril, o atual presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, chamou atenção quando, em meio a parte de sua campanha política, realizada em Pittsburgh, deu a entender que um tio dele foi comido por canibais na Papua-Nova Guiné, durante a Segunda Guerra Mundial. No último domingo, 21, o atual primeiro-ministro do país da Oceania, James Marape, acusou Biden de ofender sua nação.
Na ocasião do dia 17, Biden mencionou seu tio Ambrose Finnegan, chamado por eles de "Tio Bosie". "Ele pilotava aviões monomotores, fazia voos de reconhecimento sobre a Nova Guiné. Ele tinha se voluntariado, porque alguém não pôde ir, e foi derrubado em uma área onde, na época, havia muitos canibais na Nova Guiné. Nunca encontraram o corpo dele. O governo voltou, quando eu fui lá, e eles descobriram algumas partes do avião".
No entanto, conforme divulgado pela agência de notícias Associatd Press, antigos registros militares não descrevem a morte do tio de Biden dessa forma. Em vez disso, Ambrose Finnegan era apenas passageiro em uma aeronave que caiu no mar no dia 14 de maio de 1944. Deste incidente, apenas uma pessoa a bordo sobreviveu, e os restos mortais das outras três, bem como o avião, nunca foram encontrados; logo, sem qualquer menção a canibalismo.
Isto, porém, não quer dizer que a prática não acontecia por lá. Michael Kabuni, professor de ciência política da Universidade de Papua-Nova Guiné afirma ao The Guardian que o canibalismo existiu, mas que "tirar isso de contexto e sugerir que seu tio pulou do avião e que nós (papuásios), de alguma forma, pensaríamos que é uma boa refeição é inaceitável".
Ele acrescenta ainda que o canibalismo era praticado somente em algumas comunidades, e em um contexto ritualístico, e não por falta de comida: "Havia um contexto, eles não comiam qualquer homem branco que caísse do céu".
+ Santo Graal' da aviação militar: a curiosa saga do esquecido B-17
Após a infeliz fala de Joe Biden, no último domingo, 21, o primeiro-ministro da Papua-Nova Guiné, James Marape, reclamou que "os comentários do presidente Biden podem ter sido um deslize; no entanto, meu país não merece ser rotulado assim", segundo comunicado.
Conforme repercutido pelo g1, o premiê também afirmou que seu povo não teve relações com a Segunda Guerra, mas que ainda assim foram levados a participar do conflito. Em sequência, ele critica os Estados Unidos, pedindo que o país procurasse seus mortos e outros destroços da guerra de suas florestas.
+ Ossos de tripulantes de bombardeiro abatido na Segunda Guerra são encontrados
Os vestígios da Segunda Guerra continuam espalhados pela Papua-Nova Guiné, inclusive o avião que levava o tio do presidente Biden. [...] Com os comentários do presidente Biden e a reação no país e em outras partes do mundo, talvez seja hora dos EUA encontrar os vestígios da Segunda Guerra em Papua-Nova Guiné o mais rápido possível, incluindo os militares que morreram, como Ambrose Finnegan", continuou.