A menina e seu caderno foram separados quando a família Frank foi encontrada pelos soldados nazistas
Anne Frank passou cerca de dois anos vivendo com sua família e outros quatro judeus em um esconderijo apelidado de "Anexo Secreto". As experiências da menina, que misturam conflitos familiares, mudanças típicas da puberdade e preocupações com o contexto político da sociedade em que vivia, foram anotadas com esmero em um diário que viria a conquistar o mundo anos após ser escrito.
Infelizmente, a jovem judia não teve a oportunidade de ver suas anotações íntimas se transformarem em um documento histórico de valor. Quando o Anexo Secreto foi invadido por soldados nazistas, Anne foi levada juntamente do pai, Otto, da mãe, Edith, e da irmã mais velha, Margot, para o campo de concentração de Auschwitz.
Já seu diário ficou para trás, em meio aos escombros do abrigo que os havia mantido seguros durante tanto tempo.
O caderno viria a ser encontrado por Miep Gies, a antiga secretária de Otto, e também alguém que, junto de seu marido, havia sido responsável por manter o grupo de judeus vivos no esconderijo, abastecendo-os com comida e outros mantimentos.
Ela manteve o documento seguro na esperança de poder devolvê-lo à sua dona, porém Anne acabou morrendo de febre tifoide em fevereiro de 1945, padecendo apenas um dia depois de sua irmã, que também sofria com a mesma doença.
Vale mencionar que as duas jovens Frank chegaram ao fim da vida no campo de extermínio de Bergen-Belsen — haviam sido separadas meses antes de sua figura materna, Edith, que permaneceu em Auschwitz, onde morreu de inanição ainda em 1944.
O único membro da família que sobreviveu ao Holocausto, sendo capaz de conhecer o mundo após a derrota de Hitler e o consequente fim da Segunda Guerra Mundial, foi Otto.
Assim, foi para o patriarca dos Frank que Miep Gies entregou o diário da menina. Segundo informações repercutidas pela revista Galileu, a princípio o homem não tinha forças para ler as palavras escritas por sua filha. A perda ainda era muito recente.
Quando finalmente conseguiu fazer a leitura, todavia, se surpreendeu com o conteúdo da mente e do coração da jovem pré-adolescente: “Eu não fazia ideia da profundidade de seus pensamentos e sentimentos”, relatou ele, de acordo com o portal Anne Frank House.
Otto logo perceberia o valor dos registros feitos por Anne, compartilhando-os com familiares e amigos, e, enfim, com uma editora. O livro foi publicado pela primeira vez em 1947 com uma tiragem de somente 3 mil exemplares.
O documento histórico foi ganhando notoriedade através das décadas seguintes, à medida que um público cada vez mais amplo era cativado pelo relato da Segunda Guerra pelo ponto de vista daquela menina judia presa em um esconderijo.