Em 2021, pesquisadores da Universidade Brown revelaram que a invasão norte-americana ultrapassou a casa dos trilhões em gastos
Pamela Malva, atualizado por Wallacy Ferrari Publicado em 07/09/2021, às 09h00 - Atualizado em 31/05/2022, às 13h00
Na noite de 11 de setembro de 2001, após um dia trágico e que amedrontava a população norte-americana, o então presidente dos EUA, George W. Bush, entrava no ar em cadeia nacional de rádio e televisão, anunciando que o ataque ao World Trade Center não seria tolerado, iniciando a chamada 'Guerra ao Terror'.
Com a medida, os Estados Unidos aumentaram sua presença militar em dezenas de países, dando início a um conflito duradouro. São as consequências desse combate que o estudo ‘Costs of War’ busca avaliar, identificar e denunciar há anos.
Liderada por estudiosos da Universidade Brown, nos Estados Unidos, a pesquisa conta com uma equipe multidisciplinar, composta por mais de 50 profissionais de direitos humanos, acadêmicos, médicos e especialistas jurídicos. Juntos, os pesquisadores buscam compreender as consequências da Guerra ao Terror em diversos países.
A guerra tem sido longa, complexa, horrível e sem sucesso. E continua em mais de 80 países", lamentou a professora Catherine Lutz, co-diretora do projeto, em evento na última quarta-feira, 1.
Nesse sentido, dados da pesquisa apontam que, desde que a política de Estado foi implementada pelo governo de George W. Bush há 20 anos, entre 897 mil e 929 mil pessoas morreram no longo conflito. Entre elas, estavam militares norte-americanos, civis, jornalistas e combatentes de outros países, fossem eles aliados ou da oposição.
Lutz e sua equipe, contudo, pontuam que a estimativa não considera os óbitos causados de forma indireta pelos conflitos. Nesse caso, o estudo ainda teria que abranger mortes motivadas por doenças, deslocamentos e a falta de acesso a recursos básicos.
"É fundamental que, conforme refletimos sobre todas as vidas perdidas, nos responabilizemos pelas vastas e variadas consequências das muitas guerras e operações de contraterrorismo dos EUA desde o 11 de setembro", reiterou Neta Crawford, professora de ciência política na Universidade de Boston e cofundadora do projeto.
Acontece que, de acordo com o ‘Costs of War’, a Guerra ao Terror também exigiu trilhões de dólares dos cofres norte-americanos. “Nossa tarefa, agora e nos próximos anos, é educar o público sobre as maneiras pelas quais financiamos essas guerras e a escala desse financiamento”, explicou Lutz.
No total, juntando despesas com a guerra, o pagamento de juros em empréstimos e os cuidados com veteranos (tanto hoje, quanto no futuro), estima-se que os Estados Unidos desembolsaram cerca de US$ 8 trilhões para fazer a Guerra ao Terror acontecer.
Cerca de 25% desses gastos, por exemplo, foram gastos apenas em ações no Afeganistão e no Paquistão, segundo apontado pela Revista Galileu. Motivados pela caça a Osama bin Laden, o líder da Al-Qaeda, os EUA gastaram quase US$ 2,3 trilhões na região.
Enquanto isso, outros US$ 2,1 trilhões foram aplicados na zona de guerra entre o Iraque e a Síria. Em regiões como a Somália e outros países africanos, por sua vez, as tropas norte-americanas têm recebido um investimento de cerca de US$ 355 bilhões.
"O que realmente conseguimos em 20 anos de guerras após o 11 de setembro e a que preço?", pontuou Stephanie Savell, pesquisadora sênior do Instituto Watson, da Universidade de Brown, e co-diretora do estudo. "Daqui a 20 anos, ainda estaremos contando com os altos custos sociais das guerras do Afeganistão e Iraque — muito tempo depois que as forças americanas tiverem ido embora."
Isso irá acontecer porque, segundo os estudiosos envolvidos na pesquisa, os gastos com a Guerra ao Terror ainda devem assombrar os Estados Unidos por muitos anos. Investimentos nos cuidados para veteranos militar e em cobranças relacionadas a danos ambientais, por exemplo, devem somar uma dívida de quase US$ 2,2 trilhões.