Em Leda Atômica, Dalí mescla física, matemática e romantismo para criar uma versão surrealista da mitologia grega
Há exatos 30 anos, falecia o pintor espanhol Salvador Dalí. Nascido em 11 de maio de 1904, em Figueres, na Espanha, foi influenciado pelos mestres do classicismo e se tornou o precursor a pintura surrealista.
Em 1945, após as bombas atômicas destruírem Hiroshima e Nagasaki, no fim da Segunda Guerra, Dalí começou a pintar sua versão da lenda surrealista de Leda.
O artista, que viveu nos Estados Unidos durante o conflito, passou a se interessar por física atômica, que demonstrava que as partículas não se tocam fisicamente. Por isso, no quadro, ele suspende até mesmo o mar.
O simbolismo utilizado é comum do movimento surrealista, que lançava mão de imagens facilmente reconhecíveis apresentadas de uma forma que não parece ter sentido lógico. Essa falta de coerência levaria o observador a tentar descobrir os temas que o artista estaria tentando criar.
O próprio pintor, porém, dizia não entender seu trabalho. Segundo ele (sempre falando na terceira pessoa), “porque Dalí só cria enigmas”.
Na mitologia grega, Leda era uma das jovens por quem Zeus, o pai dos deuses gregos, se encantou. Diante da rejeição, o ser divino seduz a pretendente durante suas núpcias dissimulado como cisne. A noite de amor renderia frutos. Leda chocou dois ovos e deles nasceram os gêmeos Clitemnestra e Helena e Castor e Pólux.
Dois mortais, filhos do marido, Tíndaro, rei de Esparta, e dois imortais, filhos de Zeus.
No fundo estão as rochas do Cabo Norfeu, da Catalunha, servindo como uma referência à origem do pintor.
O cisne é o único elemento que não faz sombra, sugerindo a sua qualidade divina.
Cada objeto da pintura está imóvel e não toca os demais. Leda parece estar tentando encostar na parte de trás da cabeça do cisne, mas não
chega a completar a ação.
Seguindo a proporção divina, muito utilizada na Renascença, Leda e o cisne estão em um pentágono dentro do qual foi desenhada uma estrela de cinco pontas. Dalí, ao contrário de artistas que acreditavam que a matemática atrapalhava a inspiração, considerava que qualquer obra deve ser baseada em composição e cálculos.
Gala, esposa e musa de Dalí, é retratada como Leda. Ela aparece em muitas das obras do artista, a exemplo de A Madona de Port
Lligat, Galatea das Esferas e Retrato de Gala com Sintomas de Rinoceronte.