A rainha do Egito é uma das figuras mais marcantes da história da humanidade
Vítor Soares, professor de História Publicado em 11/12/2021, às 09h00 - Atualizado em 11/05/2023, às 20h03
"Ministrava a justiça, comandava o exército e a marinha, regulava a economia, negociava com poderes estrangeiros e presidia os templos", disse a escritora Stacy Schiff, autora de Cleópatra: Uma Biografia, sobre a última rainha da civilização que prosperou às margens do Nilo.
A charmosa Cleópatra hoje é símbolo de beleza. Mas a verdade é que o seu carisma estava muito mais relacionado ao charme. De acordo com o orador romano Cícero,Cleópatra era "(...) Capaz de fazer os outros rirem mesmo sem querer".
Definitivamente, o poder de sedução dela estava relacionado à intelectualidade. A rainha sabia nove línguas, era formada em retórica, conhecedora de aritmética, geometria, música e astrologia. Conversar com uma mulher como Cleópatra era extremamente envolvente.
"Ela era astuta e inteligente, e isso era grande parte de seu charme", afirma o egiptólogo Júlio Gralha, da Universidade Federal Fluminense. Tanto que dois líderes romanos, Júlio César e Marco Antônio, renderam-se às graças da filha de Ptolomeu.
Uma personagem tão intrigante gera muita curiosidade. Dentre elas, existe uma que, infelizmente, não conseguimos saciar: como ela era fisicamente?
Oriunda do Egito, o raciocínio mais instintivo dá conta de que ela teria pele negra. É importante também abrir um parêntese aqui: nem todos os egípcios possuíam a mesma tonalidade de pele.
Durante o século VIII a.C., o Egito Antigo foi governado por uma série de faraós negros, de origem Núbia, que vieram de um império ao sul: o Reino de Kush. Piye conquistou o Egito e tinha uma tonalidade mais escura do que a dos os egípcios que foram dominados. Ele se intitulou o “Senhor do Egito” e se tornou o que era chamado de primeiro faraó negro.
A cor da pele dos egípcios subjugados por Piye também era negra, mas com uma tonalidade mais clara. Afinal, os núbios vieram de um local mais ao sul da África, onde a pele de tonalidade mais negra é predominante, enquanto o Egito fica mais ao norte do continente.
Então, Cleópatra teria um tom de pele negra mais escura? Provavelmente não. Os faraós negros não chegaram perto de conhecer Cleópatra. A rainha nasceu em 69 a.C., enquanto o Reino de Kush deixou de dominar o Egito em 670 a.C., com a ocupação assíria da região.
Então, Cleópatra teria um tom de pele negra mais clara? Bem, provavelmente também não. Um fator influencia diretamente a discussão sobre o tom: Cleópatra tinha uma forte origem grega. Ela foi a última rainha da dinastia ptolomaica, formada por gregos que dominaram o Egito desde quando Alexandre, o Grande, colocou seu general de confiança Ptolomeu I Sóter no controle da região, em 323 a.C.
A Dinastia Ptolomaica tinha o costume de apenas se casar entre eles. A ideia era garantir a própria legitimidade e provar sua ascendência divina, como se eles fossem, de fato, deuses.
Então, Cleópatra teria um tom de pele branco? Adivinhe: provavelmente também não. Primeiro porque ela também tinha sangue persa; segundo porque não se sabe quase nada sobre o paradeiro de sua mãe.
O pai de Cleópatra é conhecido: Ptolomeu XII da dinastia ptolomaica. De qualquer forma, a genitora da marcante rainha tem tanta influência quanto o genitor. Ficamos assim: não temos metade da resposta sobre a cor da pele de Cleópatra.
Ver essa foto no Instagram
Entretanto, recentemente foi encontrada em uma tumba de mais de 2 mil anos em Éfeso, na Turquia, possivelmente o esqueleto da irmã mais nova de Cleópatra: a princesa Arsinoe.
O estudo sobre o crânio de Arsinoe percebeu que existem características de brancos europeus, antigos egípcios e africanos negros. A arqueóloga Dra. Hilke Thur defende a tese de que seja de fato a irmã de Cleópatra e afirma que a descoberta corrobora com a hipótese de que a mãe de Cleópatra seja de origem africana.
Em 2017, a egiptóloga Sally-Ann Ashton, da Universidade de Cambridge, decidiu tentar reconstituir o rosto de Cleópatra com as informações que temos.
Utilizou diversas gravuras de moedas antigas, bustos e esculturas da rainha, o que resultou na seguinte imagem.
A pesquisa chegou em algumas conclusões: a rainha tinha queixo pontudo, lábios finos e um nariz grande. Mas, de qualquer forma, o historiador Ueldison Alves de Azevedo afirmou ao site Aventuras na História que não é possível concluir a cor real da pele de Cleópatra.
“(...) Para entendermos um pouco sobre a sua formação de origem e aquilo que ela viria a ser, é de conhecimento dos historiadores as vagas informações que obtemos de sua mãe, mas sabemos bem que a Grécia foi formada por uma miscigenação de outros povos”, afirma o historiador, antes de concluir. “(...) a menina que seria a futura rainha do Egito tem traços gregos, persas e egípcios", explica Alves.
A saga de Cleópatra é tema do podcast 'Desventuras na História'. Com narração de Vítor Soares, professor de História e dono do pdocast 'História em Meia Hora', o episódio relembra a instigante história daquela que se tornaria a última rainha do Egito.
Escute o episódio abaixo!