O dia 7 de fevereiro marca o Dia Nacional de Luta dos Povos Indígenas e o cinema tem muito a nos ensinar sobre os primeiros povos das terras tupiniquins
Como chegamos na data de 7 de fevereiro? É triste, mas extremamente importante. Foi quando, em 1756, o nativo guarani Sepé Tiaraju liderou a revolta contra o Tratado de Madri — que uniu os portugueses e espanhóis, para reivindicar as suas terras, porém, só após quase 300 anos de sua morte, o Dia Nacional de Luta dos Povos Indígenas (2008) foi instituído.
A briga, não é apenas pela demarcação, para defender sua casa — o que já era justo, mas os indígenas também se preocupam constantemente com a natureza, pois sabem que sem ela, não vamos viver por muito tempo.
Além de todo o contexto de luta, os povos Indígenas têm cores, sons, sabores e arte, que são cultura pura. Quem já visitou suas terras e fez por um instante parte daquele universo pode saborear a harmonia e o convívio fácil que tem perante a interação homem versus homem, versus natureza.
E para ressaltar a importante data, que fez com que eles pudessem lutar pela grande casa de todos nós, eu, como amante desta comunidade e grande incentivador da arte proveniente deles, separei algumas obras não tão conhecidas e imperdíveis sobre o assunto.
Dirigido por Ciro Guerra, o longa mostra a história de um explorador europeu que entra em uma jornada para percorrer o rio Amazonas, e ao lado do xamã Karamakete, sua busca é pela cura. O filme fala sobre uma lenda de uma flor que pode acabar com sua enfermidade. E, quarenta anos depois, outro explorador tenta convencer o mesmo índio a ajuda-lo. A pegada cinematográfica passeia entre as duas jornadas, que deixa o expectador um pouco confuso no começo, sobre em qual tempo ele está. Mas começa a ficar nítido quando a diferença do posicionamento do xamã começa a aparecer. É um estudo antropológico e uma forma romântica de valorização da natureza.
O maior ritual feminino do alto Xingu é mostrado neste documentário dirigido por Carlos Fausto, Leonardo Sette e Takumã Kuikuro. A força e beleza inocente de suas mulheres é demonstrada de forma que se afasta da idealização mostrada em outras obras, ainda que mostra o retrato da sensualidade percebida pelo “homem branco” (como eles dizem). Uma pitada de humor e muita responsabilidade ao retratar uma comunidade que precisa de cada partícula do feminino, de seu canto, seu ritual, seu trabalho, enfim, por mais que impossível em alguns casos, de sua vida.
Ao começar a questionar sua fé a partir do julgamento dos homens brancos, um poderoso pajé começa a pensar em sua religião como demoníaca. Até que a evangelização de sua aldeia desencadeia muitas mortes e a ligação dos índios com os espíritos da floresta passa a ser necessária. O documentário dirigido por Luiz Bolognesi fala sobre etnocídio, extermínio de cultura e sobre a vida dos índios que vivem isolados na Amazônia, os povos de Pater Saruí. E apesar de algumas cenas ficarem claras que estão utilizando de recursos para montar uma ficção, esse fato não derruba a veracidade contida em toda a história.
Com direção de João Salaviza e Renée Nader Messora, o longa mostra um pouco do ritual celebrado aos mortos do povo Krahô. Ihjãc, o jovem que recebeu a visita do espírito de seu falecido pai, sentiu que devia fazer esse ritual de passagem. No dia em que o filho recebe o pai desencarnado, as cenas são de tirar o folego, com enquadramentos ricos, focado no espaço das terras indígenas e também em rostos, vestimentas, pinturas detalhes que falam por si só sobre a beleza e cultura encontrada nestas comunidades.
Por mais que seja romantizada a forma em que uma pequena menina enfrenta malfeitores para salvar seu lar, o encanto vem. Cenário, roteiro e atuação ficam em primeiro plano e contorna qualquer sequência fantasiosa. Além disso, fica muito fácil mostrar a cultura e costumes indígenas por meio dessa obra. É um excelente filme para crianças.
O cineasta brasileiro Daniel Bydlowski é membro do Directors Guild of America e artista de realidade virtual. Faz parte do júri de festivais internacionais de cinema e pesquisa temas relacionados às novas tecnologias de mídia, como a realidade virtual e o future do cinema. Daniel também tenta conscientizar as pessoas com questões sociais ligadas à saúde, educação e bullying nas escolas. É mestre pela University of Southern California (USC), considerada a melhor faculdade de cinema dos Estados Unidos. Atualmente, cursa doutorado na University of California, em Santa Barbara, nos Estados Unidos. Recentemente, seu filme Bullies foi premiado em NewPort Beach como melhor curta infantil, no Comic-Con recebeu 2 prêmios: melhor filme fantasia e prêmio especial do júri. O Ticket for Success, também do cineasta, foi selecionado no Animamundi e ganhou de melhor curta internacional pelo Moondance International Film Festival.