O debate em torno das populares marchinhas de carnaval contrastam com letras que enaltecem racismo e homofobia
O Carnaval se tornou uma das mais notórias comemorações em terras tupiniquins com muito brilho, música local e apreço popular, sendo uma festa acessível que para o Brasil todos os anos.
Comemorado em avenidas com grandes desfiles ou com passeatas em bloquinhos regionais, o Carnaval ganhou características próprias nacionalmente, tendo o samba como trilha sonora. Contudo, as populares marchinhas, com versos simples e fáceis de decorar, se tornaram alvo de debate com o tempo devido aos temas delicados que abordam.
‘Cabeleira do Zezé’, por exemplo, consegue associar o corte de cabelo de um rapaz com sua masculinidade, a pondo em dúvida. O mesmo ocorre com ‘Maria Sapatão’, intitulada com o termo pejorativo direcionado as pessoas lésbicas.
Racismo também se faz presente entre as queixas relacionadas ao clássico ‘O teu cabelo não nega’; além de usar o termo ‘mulata’ em seu refrão — criado para definir pessoas negras frutos de relacionamentos entre europeus e afrodescendentes ainda durante a escravidão —, a canção trata de um relacionamento entre um homem e uma mulata que só é permitido pelo fato de sua cor não ser transmissível.
Apesar de terem sido escritas muito antes de tais debates se tornarem notórios nacionalmente, a questão chama atenção nos dias atuais.
Em entrevista à revista CARAS, marca parceira do Grupo Perfil Brasil, o cientista social e cantor Carlos Barros compreendeu que, reformulações de conceitos relacionados a igualdade e respeito possibilitam a busca de alternativas contemporâneas as letras que enfatizavam estereótipos preconceituosos.
Acho que há tempo de rever essas faixas clássicas, sim, substituí-las por outras que são importantes também. Não necessariamente cancelar, no sentido de não entender em que contexto foram feitos, mas evitá-las. Acho que é possível evitá-las e isso não tira a essência da festa, porque as composições de Carnaval continuam sendo feitas", disse ao veículo.
O próprio cientista social corrobora que “é residual achar que é comum, que é possível e que é algo aceitável, que esse tipo de manifestação seja aceita com legítima”, mas sugere marchas contemporâneas como alternativa as aplicações ofensivas.
Embora muitos cantores tenham a preocupação de revisar as músicas antigas para se adaptar aos tempos atuais, Carlos destaca que muitas marchinhas apresentam trechos problemáticos do início ao fim, o que dificulta essa mudança.
"Talvez a solução seja realmente escolher outras marchas mais contemporâneas ou outras contemporâneas a essas, que não tem esse teor tão preconceituoso", explicou ele. "De todo modo, eu acho que o Carnaval é um bom espaço para a gente perceber qual a temperatura da dos preconceitos, qual a temperatura da aceitação e não aceitação da sociedade para algumas modificações nas suas sociabilidades que acho que são importantes".