"A Mente Imprudente", de Mark Lilla, apresenta a adoração de grandes pensadores do século 20 por regimes genocidas
É um clichê anti-intelectual a ideia de professores que, do conforto de seus sofás e bem
pagos salários em universidades, abraçam regimes responsáveis pelas mais abjetas passagens da miséria humana no século 20. Mas é fato que não faltaram amigos a líderes com uma contagem de corpos na faixa de dezenas de milhões.
Em A Mente Imprudente, o sociólogo Mark Lilla, da Columbia University (EUA), tenta entender como esse estranho fascínio atingiu não a fanáticos simplórios, mas seis brilhantes mentes que costumam entrar em listas das maiores do século: Martin Heidegger, Carl Schmitt, Walter Benjamin, Alexandre Kojève, Michel Foucault e Jacques Derrida.
Carl Schmitt é um especialista em direito ainda muito estudado, que defendeu um estado sem direito para boa parte de sua população: o nazista. Martin Heidegger, um filósofo para filósofos e leitura obrigatória em qualquer curso que se leve a sério, entrou no partido nazista e cortou todas as suas relações com colegas judeus – por razões tão difíceis de entender quanto sua filosofia.
O capítulo sobre ele é na verdade triplo, também abordando sua relação íntima com Hannah Arendt e sua amizade com Karl Jaspers. Na ala esquerda, Walter Benjamin
manteve-se fiel a Stalinmesmo quando a maioria dos pensadores de esquerda passou a migrar para a mais confortável sombra de Trotski, o inconformado perdedor da Revolução de 1917.
Kojève, nascido na Rússia, mas morando na França, dizia-se ainda assim stalinista. E Derrida e Foucault, os pós-estruturalistas que rejeitaram o marxismo tradicional inspirados em Heidegger, são estudados mais pelas implicações de seu pensamento que por suas alianças.