A vida e a morte do impiedoso do catastrófico século 20
Rodrigo Trespach, historiador e escritor Publicado em 06/06/2021, às 11h00 - Atualizado em 05/03/2023, às 10h04
Nem Hitler foi responsável por um número tão grande de perseguições e assassinatos
quanto os realizados por Josef Stálin (1878-1953). O mais impiedoso ditador do catastrófico século 20 nasceu em uma aldeia da Geórgia como Ióssif Djugachvili.
Filho de um pai beberrão e uma faxineira, o futuro líder soviético foi seminarista, operário e revolucionário, tendo sido preso e exilado na Sibéria diversas vezes, o que lhe possibilitou o estudo do marxismo e o levou à condição de redator do Pravda e um lugar de destaque entre os comunistas russos. Durante a Revolução de 1917, ganhou o nome pelo qual passou para a história: Stalin, o Homem de Aço.
Vencida a guerra civil que se seguiu à revolução, teve início a disputa pelo poder entre os líderes comunistas. Com Lenin doente, a luta foi travada entre Trótski, o criador do Exército Vermelho, e Stalin. Em 1924, Lanin morreu e Stalin assumiu o controle da União Soviética.
Seu arquirrival foi expulso do país em 1929 e assassinado no México, em 1940. Então, o Homem de Aço deu início à construção de sua imagem. Uma biografia oficial foi publicada e os nomes de antigos companheiros foram apagados dos livros de História.
Praças receberam bustos seus, ruas e cidade foram rebatizadas. Volgogrado passou
a se chamar Stalingrado. No campo econômico, Stalin coletivizou a agricultura. Mas a estatização da produção, com o confisco dos grãos e a corrupção do sistema, desencadeou uma enorme crise de abastecimento.
Na Ucrânia, mais de 2 milhões de camponeses foram expulsos de suas fazendas e outros 1,8 milhão foram deportados para o Gulag — o acrônimo russo para Administração Geral dos Campos de Trabalho Correcional e Coloniais. Cerca de 400 mil foram fuzilados por serem classificados como “contrarrevolucionários”.
Mais de 3,5 milhões teriam morrido em decorrência da fome. As reformas seguintes também foram cruéis. Perseguições, execuções e deportações para o Gulag aconteceram em grande escala.
Ao todo, 35 mil oficiais do Exército Vermelho foram executados – o mesmo destino de 1 milhão de soldados. Alguns historiadores modernos estimam que somente entre
1935-1940 mais de 8 milhões de “inimigos do povo” tenham morrido durante o que ficou conhecido como Terror Vermelho.
O historiador polonês Moshe Lewin chamou a política de Stalin de “paranoia institucionalizada”. A obsessão de Stalin pelo controle absoluto de tudo era tal que, em 1938, antes de ir a uma sessão de cinema, deixou anotado sobre a mesa: “Todas
essas 3.167 pessoas devem ser fuziladas”.
Quando a Segunda Guerra Mundial teve início e a União Soviética ocupou a parte oriental da Polônia, ele ordenou a execução de 22 mil prisioneiros, entre oficiais do
Exército e intelectuais.
Depois da guerra, a culpa foi colocada sobre os ombros nazistas, mas com o fim do regime soviético, na década de 1990, a ordem de execução, assinada pelo próprio Josef Stalin, veio a público. Ao longo da vida, o ditador teria mandado executar cerca de 800 mil pessoas.
Em 1946, o mesmo Stalin que a propaganda pintava como o responsável pela “libertação dos povos da Europa do jugo fascista”, mantinha cerca de 20 milhões de cativos. Qualquer um que tivesse mantido “relação amistosa” com o inimigo foi enviado para o Gulag, entre eles 200 mil tártaros e 390 mil chechenos. Os cossacos foram
dizimados. Ao todo, 3,5 milhões de pessoas per tencentes a minorias étnicas foram deportadas.
Mas, apesar de todo o poder que detinha, o Homem de Aço tinha um medo insano de ser assassinado: evitava manifestações populares e poucas vezes utilizou o avião como meio de transporte — ele preferia um trem blindado.
No campo privado, Stalin não se saiu melhor. Foi casado duas vezes, tendo ficado viúvo em ambos os casos. A segunda esposa, Nadejda Alliluyeva, conhecida como Nádia, tinha apenas 18 anos — Stalin já estava com 41 — e era secretária de Lenin.
Foram casados por 13 anos, até ela cometer suicídio em 1932. Depois de Nádia, ele manteve relacionamento com diversas mulheres, incluindo uma cunhada, uma estrela do Bolshoi e a governanta de uma de suas dachas (nome russo dado para fazenda ou mansão).
Os filhos foram igualmente problemáticos. O mais velho, que também tentou suicídio,
morreu prisioneiro dos alemães — Stalin se negou a trocar o primogênito por um marechal de campo nazista. A filha migrou para os Estados Unidos depois de três casamentos fracassados e o caçula morreu alcoólatra.
Stalin caiu vítima do próprio mundo que criara. Aos 75 anos, foi encontrado caído no chão do quarto, mas seu médico particular estava preso e uma equipe de saúde
só foi autorizada a tratá-lo no dia seguinte.
O ditador agonizou por quatro dias antes de falecer, de “hemorragia cerebral”. Pelo menos essa foi a versão oficial divulgada; o que na União Soviética não significava nada. A propaganda comunista era hábil em esconder verdades. No inventário dos bens pessoais do ditador quase nada de valor foi encontrado. Sua fortuna era um segredo de Estado.
Além da suíte no Kremlin, Stalin vivia em cinco dachas na capital e em mansões às
margens do Mar Negro, todas bem equipadas, algumas magnificamente decoradas, com artigos de luxo, cavalos de raça e coleções de automóveis estrangeiros. Tudo pago pelo governo às custas do povo; de gastos triviais a serviçais, entretenimento, festas e viagens. Nada mal para um socialista.
Rodrigo Trespach é historiador e escritor, autor de 14 livros, entre eles: ‘Personagens do Terceiro Reich’ (ed. 106) e ‘Histórias não (ou mal) contadas: Segunda Guerra Mundial 1938-1945' (ed. Happercollins Brasil).
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