O desastre, em 1937, matou 36 pessoas e aposentou de vez os dirigíveis
Era o começo da noite do dia 6 de maio de 1937 quando o LZ 129 Hindenburg finalmente começou as manobras de atracamento na base de Lakehurst, em Nova Jersey. Após várias manobras para conseguir se estabilizar diante do forte vento, os cabos foram lançados ao solo.
Chegava mais de 6 horas atrasado de numa viagem da Alemanha. Era a primeira de uma série de 10 voos circulares previstas para a temporada, que havia começado no fim de março com uma viagem entre a Alemanha e o Rio de Janeiro. O atraso era por conta de tempestades de raios durante o dia, que tornaram o pouso impossível.
Para matar tempo, o capitão havia desfilado com o portentoso dirigível — com seus 245 metros, até hoje a maior aeronave já feita pela humanidade — sobre Manhattan. O que foi fotografado por aviões.
A queda
Às 19h25, como que do nada, o dirigível pegou fogo. Começando pela parte de trás, o furioso incêndio começou a trazer o colosso para o chão, perdendo sustentação primeiro atrás e empinando, em sucessivas explosões de cada uma de suas câmaras de gás. Em segundos, restava uma carcaça flamejante no solo. Como havia uma grande quantidade de jornalistas no local, prontos para registrar a chegada do celebrado dirigível, o evento foi amplamente filmado e fotografado.
Mais que um meio de transporte, o Hindenburg era um instrumento da propaganda nazista numa época em que o país ainda tinha relações normais com o resto do mundo — particularmente amigáveis, no caso do Brasil, em que não faltavam simpatizantes no regime Vargas.
O Hindenburg havia feito quatro viagens Europa-Brasil-Europa — numa delas, em 1936, levou o maestro Heitor Villa-Lobos a bordo. A guerra estava a mais de dois anos de começar, e seriam preciso outros dois, com o ataque de Pearl Harbor, para finalmente convencer o público dos EUA que eles deviam intervir.
A sustentação do dirigível era dada pelo hidrogênio, altamente inflamável. Agentes americanos haviam alertado os alemães que eles deveriam usar hélio no Hindenburg, mas a Alemanha não tinha reservas do gás — os EUA eram o único país que produzia hélio na época.
Das 97 pessoas a bordo, 35 morreram,13 das quais passageiros. Houve outra morte, de um membro da equipe de terra. O acidente ficou famoso na voz do locutor Herbert Morrison, da estação WLS, de Chicago. "Oh, a humanidade!", tornou-se uma expressão incorporada à cultura popular americana.
Sua narrativa só foi ao ar no dia seguinte. E o sistema de gravação acelerou sua locução, o que deu um tom mais dramático ao texto. Sua última frase: "Preciso parar por um minuto. Perdi minha voz. Esta é a pior coisa que presenciei em minha vida."
Fim de uma era
Nunca foi esclarecido o que derrubou o Hindenburg. Teorias incluem sabotagem por alemães antinazistas ou uma ignição acidental por energia estática, um raio, faíscas dos motores ou um fenômeno chamado fogo de santelmo.
Na guerra, a Marinha americana produziu modelos menores e mais seguros, sustentados por hélio inerte, unindo os conceitos alemães aos desenvolvidos por Santos Dumont entre 1898 e 1904. Foram usados para escoltar navios e detectar submarinos inimigos.
Mas isso não salvou o dirigível. O acidente com o Hindenburg feriu de morte a credibilidade de um tipo de viagem considerada lúdica, um relaxado cruzeiro pelo ar, e ainda assim muito mais rápido que uma viagem de navio — e mesmo de avião, porque então o único jeito de cruzar o Atlântico em voos comerciais era com escalas no Brasil e na África, pelo caminho mais curto pelo mar.
Nos cinemas e nos jornais, uma impressionante catástrofe fora vista globalmente, por milhões de pessoas. Em 30 segundos, o meio de transporte do futuro ficara para o passado.
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