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'Galileu diante do Santo Ofício': 5 fatos sobre a obra, 174 anos depois

Criada por Joseph-Nicolas Robert-Fleury, a tela representa a punição do cientista por afirmar que a terra não era o centro do universo

Redação Publicado em 11/07/2021, às 11h00

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Imagem da tela 'Galileu diante do Santo Ofício' - Domínio Público/ Creative Commons/ Wikimedia Commons
Imagem da tela 'Galileu diante do Santo Ofício' - Domínio Público/ Creative Commons/ Wikimedia Commons

Eppur si muove! “E, assim mesmo, se move.” A frase se tornou slogan da rebeldia da razão contra o fanatismo religioso. Galileu Galilei a teria murmurado em 1633, após ser forçado a dizer que o Sol gira em torno da Terra, fixa no centro do Universo. Historiadores duvidam que a frase realmente tenha sido dita.

Ela não aparece nos documentos oficiais nem em biografias da época. Seria loucura desafiar a Inquisição em seu segundo julgamento — o primeiro, em 1616, o havia proibido de ensinar que a Terra gira em torno do Sol, a doutrina do heliocentrismo, contrariando milênios do geocentrismo (a Terra no centro do Universo).

A Igreja estava pegando leve ao mandá-lo para a prisão, revertida depois para prisão domiciliar. Giordano Bruno, outro defensor da mobilidade da Terra, fora mandado para a fogueira 33 anos antes. Parece ridículo hoje que algo tão óbvio quanto a Terra orbitar o Sol causasse tanta controvérsia. Mas era uma ideia altamente desestabilizadora: contrariava a Bíblia e os filósofos gregos aceitos como cânones pela Igreja.

Retrato de Galileu Galilei / Crédito: Museu Marítimo Nacional/ Domínio Público

Talvez mais importante, tirava a primazia da morada dos humanos, o lugar onde nasceu Jesus Cristo, reduzida a um ponto qualquer no Universo. Galileu estava longe de ser um inimigo da Igreja. O livro que causou toda a controvérsia, publicado um ano antes de seu julgamento, havia sido incentivado pelo próprio papa Urbano VIII.

Ele era seu amigo pessoal e acreditava que o cientista estava preparando uma discussão neutra sobre as ideias do heliocentrismo versus geocentrismo. O livro era uma quase sardônica defesa do primeiro. Galileu seria colocado no Index, a lista de livros proibidos, até 1758. Só em 1992, com o papa João Paulo II, a Igreja se retratou pela injustiça.

1. O réu

Galileu Galilei tinha 70 anos quando foi chamado pela segunda vez para ser julgado
pela Inquisição, e veio a viagem toda de Florença reclamando de dores no nervo ciático. Ainda que o papa tenha autorizado o uso de tortura, os inquisidores decidiram que o réu era velho e doente demais para aguentar. A tortura ficou só na ameaça.


2. Quadro no quadro

Imagem da tela 'A Disputa do Sacramento', de Rafael / Crédito: Domínio Público

Com o artista tomando a licença para situar a cena no lugar errado, é curioso que tenha escolhido reproduzir o quadro 'A Disputa do Sacramento', de Rafael. É sua primeira obra no Vaticano, datada de 1509, e mostra teólogos discutindo diversos temas. Outro quadro na sala, também de Rafael, é 'A Escola de Atenas', com os filósofos gregos aceitos pela Igreja — entre eles Ptolomeu, criador do modelo geocêntrico.


3. O livrão

O heliocentrismo era considerado herético, entre outras coisas, porque contrariava vários versículos da Bíblia. Como em Crônicas: “Trema diante dele toda a terra; o mundo se acha firmado, de modo que se não pode abalar”. Isto é, a Terra é imóvel. Na época, a maioria dos teólogos católicos ainda defendia uma interpretação literal do livro sagrado.


4. O livrinho

Páginas do 'Diálogo sobre os Dois Principais Sistemas do Mundo', de Galileu / Crédito: Domínio Público

A causa do segundo julgamento de Galileu foi o 'Diálogo sobre os Dois Principais Sistemas do Mundo', livro de quatro capítulos lançado em 1632. O título sugere um diálogo entre iguais, mas é uma sátira do geocentrismo: Galileu pôs na boca de um personagem chamado 'Simplício a defesa da Terra fixa', usando argumentos que tinha ouvido do próprio papa Urbano VIII.


5. Nepotismo

O cardeal Francesco Barberini era o Grão Inquisidor do Santo Ofício. Amigo pessoal
de Galileu, havia sido posto no cargo por ser sobrinho do papa Urbano VIII, e liderar a comissão de dez cardeais no julgamento. Seu voto vencido, junto com outros dois, foi por absolver o cientista.


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