Em 1946, o icônico pintor uniu a luta contra o inconsciente e diversos temas religiosos em uma clássica pintura surrealista
Em 23 de janeiro de 2021 comemoram-se 32 anos da morte de Salvador Dalí, um dos mais populares modernistas do século 20, se não o mais. Nascido em 1904, em Figueres, Catalunha, o asperante a artista começou a pintar aos 13 anos e, em meados de 1919, organizou sua primeira exposição pública.
Em 1927, instalou-se em Paris e tornou-se membro do movimento surrealista, liderado pelo poeta André Breton. Como reação ao racionalismo e ao materialismo, o surrealismo tinha a proposta de utilizar o potencial do subconsciente como fonte de imagens.
A partir de então, Dalí se dedicou a representar imagens do cotidiano a partir do fluxo inconsciente dos sonhos. De forma inesperada e surpreendente, pessoas, animais e objetos se fundiam em suas composições, cheias de cor e brilho.
Essas características estão presentes em 'Persistência da Memória', criada em 1931, e 'Metamorfose de Narciso', de 1937. A instigante obra 'A Tentação de Santo Antônio', realizada em 1946, em Nova York, contudo, foi feita durante um concurso no qual era necessário retratar Santo Antônio sendo tentado, assim como na passagem bíblica.
Na obra, Dalí se utilizou das noções de sonho — diante da intensidade do inconsciente, nos vemos tentados e desprotegidos. Santo Antônio se vê diante de uma forte tentação, que o desnuda — assim como os sonhos, que nos despem de qualquer privação.
A única esperança que lhe resta está em Cristo — a cruz. A cruz segurada por Santo Antônio, todavia, é de estrutura frágil e parece prestes a se quebrar, revelando a fragilidade do homem. No chão, dois seres aparentam passar por outros conflitos.
O cavalo, que se lança sobre Santo Antônio, simboliza o inconsciente profundo e reprimido, o acúmulo de emoções. Um elefante traz uma mulher nua, representando a luxúria. Como em um sonho, que distorce tempo e espaço, as criaturas presentes na printura são desproporcionais às reais. As proporções exageradas enfatizam sua maldade e o medo que o santo sente diante delas.
O deserto, local onde ocorre a tentação, passa a sensação de vazio, abandono e solidão. Na obra, a senção predominante é de que os segundos, minutos e horas não existem, e o tempo não passa: não há como fugir do inconsciente.
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