O humilde microfilme - e não computadores - pode evitar uma nova Idade das Trevas
Mil livros no espaço de um caderno. Desde quando isso é possível? Se pensou nos e-books, errou por meros 159 anos. O segredo está naquela maquininha que talvez você tenha notado numa biblioteca, parecendo um computador realmente velho. É uma peça totalmente analógica, mas que ainda pode salvar o futuro da ignorância.
Em 1839, o pioneiro da fotografia John Benjamin Dancer criou um método que permitia imprimir imagens 160 vezes menores que o tamanho original, para serem lidas com lentes de aumento. Dancer viu a coisa só como um brinquedo, e nem patenteou. O francês René Dagron notou a brecha e registrou o invento em 1859.
Onze anos depois, na Guerra Franco-Prussiana, o processo encontraria uma de suas vocações, ao criar mensagens que podiam ser levadas por pombo-correio.
O outro grande trabalho do microfilme, e a razão por que você deveria se importar com ele, só começou na década de 1920. Em 1925, George McCarthy conseguiu a patente para uma máquina de microfilmagem em massa. Bibliotecas passaram a registrar seus acervos em microfilme. Em 1939, a Biblioteca do Congresso dos EUA já tinha armazenado 3 milhões de documentos assim.
Nas últimas décadas, essas coleções passaram a ser armazenadas em computador. Mas isso não quer dizer que os microfilmes perderam seu valor. Porque eles são uma aposta muito mais sólida no futuro: informações guardadas de forma digital sofrem de um problema chamado bit rot (“apodrecimento dos bits”). Parte disso é porque as formas de armazenamento físicas têm data de validade: pelas estimativas da empresa de preservação de dados StorageCraft, um CD ou DVD gravados geralmente se tornam ilegíveis em cinco anos. Um disco rígido de computador tem expectativa de vida similar. Os velhos disquetes magnéticos duram até 20 – o que quer dizer que quase todos os dados neles já são ilegíveis. E há também o formato do arquivo: uma coisa gravada há 20 anos pode ser impossível de ser aberta por qualquer aplicativo atual.
Microfilmes não têm nada disso. Só precisam de uma lente de aumento para serem lidos. Se a humanidade passar por um apocalipse ao estilo Mad Max, arqueólogos terão acesso a nosso conhecimento não por computadores há muito comidos pela ferrugem, mas pelas humildes folhinhas, que duram ao menos 500 anos. Da literatura à ciência, quem encontrar um arquivo como o da Biblioteca do Congresso pode simplesmente reconstruir nossa civilização.