A ossada de um ictiossauro foi desenterrada em 1850 por uma família da Inglaterra, mas a descoberta foi mantida em segredo por gerações
Vestígios de gigantes animais da Pré-história até hoje são encontrados em diferentes partes do mundo, abrindo um portal para conhecermos como era a vida na Terra há milhões de anos. Na maioria das vezes, tais fósseis são estudados cuidadosamente e expostos em museus no mundo afora.
Entretanto, não foi isso que aconteceu com um fóssil de ictiossauro, encontrado em 1850 em um terreno na Inglaterra. O esqueleto, que ficou escondido por mais de 150 anos, teve uma saga inusitada — e um fim tão inesperado quanto o resto de sua história.
Em meados do século 19, a família Temperley tinha fortes crenças religiosas, respeitavam a Deus acima de tudo. Morando no condado de Somerest, bem próximo ao País de Gales, mal eles podiam imaginar que no solo de sua propriedade estaria guardado um pedaço do passado, que desafiaria tudo que eles acreditavam.
Certo dia, enquanto cavavam parte da terra, perto de uma pedreira, os Temperley localizaram um esqueleto diferente de tudo que já haviam visto. Atordoados, continuaram a cavar, até que o fóssil bem preservado de uma espécie de réptil foi revelado.
Pensando se tratar de um dinossauro, a família escondeu de volta no solo aquela ossada misteriosa. A principal razão: crenças religiosas. Sem poderem admitir que existia qualquer outra possibilidade para o início da vida no planeta, a não ser o criacionismo, ensinado pela Bíblia, os ingleses optaram por apenas esquecer o que tinham visto. E assim conseguiram manter por mais de um século.
Mesmo tendo vivido na mesma época que os dinossauros, os ictiossauros eram répteis marinhos. Surgiram bem no começo do Triássico Inferior, há cerca de 250 milhões de anos.
Esses animais podiam nadar a uma velocidade alta, medindo de 2 a 3 metros de comprimento. Ainda que seus focinhos fossem alongados como os de golfinhos, especialistas explicam que eles se pareciam mais com lagartas com nadadeiras.
Essa ordem encontrou sua extinção pouco antes dos dinossauros, 66 milhões de anos atrás. Porém, o primeiro fóssil de um ictiossauro só foi descoberto em 1811, ao sul da Inglaterra, o que acrescenta ainda mais importância para o segredo da família Temperley, já que, na época, ainda não se sabia muito sobre a espécie.
Voltando para o achado que estava mantido em sigilo pelos religiosos, por vezes, novas gerações que chegavam desenterravam o esqueleto apenas para constatar que a narrativa não era apenas uma lenda de família. Assim ocorreu até o nascimento de Julian Temperley — que seria o responsável por mudar o que estava intacto por anos.
Em 2019, Julian deu uma entrevista para o jornal Burnham & Highbridge Weekly News e decidiu contar o que seus antepassados fizeram. Ele relembrou que desde criança desenterrava o ictiossauro e o escondia novamente, algo que parecia uma tradição familiar.
Contudo, ele chegou em seu limite, no ano de 2013 para 2014. Durante o inverno, fortes inundações atingiram o condado, e Temperley decidiu que era a hora de contar a verdade. “Percebemos que não era uma boa ideia deixá-lo enterrado e achei que deveríamos cuidar dele”, revelou na conversa.
Em seguida, o especialista em fósseis, Chris Moore foi contratado, ele deveria escavar e limpar os ossos, mas se surpreendeu com a magnitude do que estava lidando. “Os dentes ainda estão lá na forma de esmalte depois de 90 milhões de anos, o que é muito bom’, disse Moore para Julian; além de descrever o estado do animal como “um dos melhores que ele já tinha visto”, avaliou o artefato em 15 mil libras esterlinas (pouco mais de 100 mil reais, em conversão).
Sua saga rapidamente viralizou e uma ideia insólita surgiu em sua mente. Após doar o fóssil para que estudiosos o analisassem, Temperley decidiu que faria da relíquia uma marca de seu sobrenome. O ictiossauro será a estampa do conhaque criado por ele e, em suas palavras: “fará parte da história da família”.
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