O item carrega histórias que, além de ninar, podem contar muita coisa sobre os pequenos
Logo que descobrem a gravidez, uma das primeiras preocupações da nova família é preparar o quarto do bebê. A decoração, as cores e os móveis passam a ser pesquisados em busca daquele que mais agrada o estilo da família.
Dentre estes itens que fazem parte do ambiente, o berço assume um papel fundamental, pois é lá onde a criança vai desfrutar os momentos de descanso, crescimento e desenvolvimento nos primeiros meses de vida.
Porém, o que é pouco comentado, ou até esquecido em meio a tanta coisa para pensar por partes das famílias, é que os berços possuem características históricas marcantes ao longo dos séculos.
Além de parte essencial do quarto, estas pequenas camas já tiveram uma infinidade de formatos, estilos e materiais usados em suas construções, independente da época na qual foram utilizados.
Os primeiros registros históricos sobre o que seriam berços como conhecemos datam do Egito Antigo, conta o construtor e decorador de ambientes, o português Márcio Inverneiro. “Eram feitos de junco e tecidos, enquanto alguns também eram esculpidos em troncos. Para os bebês-faraós, eles utilizavam madeira provenientes do Líbano e da Sicília como o cedro e ébano, com incrustações em marfim e painéis de ouro em relevo”, conta.
Muito anos depois, quando nem os europeus tinham chegado na América, os nativos dessa região embalaram seus bebês em uma multidão de estilos diferentes, “quase tão diversos quanto nossos berços modernos do bebê. Para se ter ideia, tinham aqueles formados por casca, pele, lattice, de cestos e muitos mais. Esse estilo mudou com a geografia da tribo e foi influenciado pelos materiais disponíveis para construção”, destaca Inverneiro.
Já os berços produzidos nos moldes como esses que se encontram atualmente foram criados por volta do ano 1600. “Eles eram feitos em madeira, entalhados à mão, normalmente quem os possuía eram as famílias mais abastadas da época. Outro detalhe interessante era sua durabilidade. Por usar materiais nobres e ter uma confecção artesanal, estes equipamentos passavam por várias gerações. Para quem era das classes sociais inferiores, era comum usar cestos adaptados para os bebês dormirem”, revela o empresário.
“No século XVII, um modelo de berço oval foi usado pela família imperial em Portugal. O formato, além de moderno para aquela época, ainda pode é uma opção adotada até os dias atuais pelas mães mais ousadas”, conta o decorador de ambientes.
Alguns berços também podiam, inclusive, serem usados até como instrumentos políticos. Para se ter ideia, um berço encomendado por Napoleão para ser usado por seu filho foi feito em mogno e bronze.
Além disso, destaca Márcio, “as placas do berço representam as esperanças de Napoleão em relação ao seu único filho. Em um dos lados estão representados o rio Sena e as armas de Paris. E do lado oposto o rio Tibre e as armas de Roma, que eram o duplo império que Napoleão almejava deixar. Na cabeceira e nos pés, observam-se as figuras representando a paz e a justiça”. Para quem deseja conferir, este berço encontra-se hoje em Viena e é um dos exemplos do mobiliário francês produzido no Primeiro Império de Napoleão.
Até mesmo um berço do século XVIII esteve em exibição no Japão e possui mais de 2 mil pedras preciosas usadas em sua construção, “incluindo ali diamantes, rubis e esmeraldas”.
Por isso, independente do período, formato e estilo, “o que se percebe é que em qualquer época sempre houve uma grande preocupação das famílias com o lugar onde os bebês descansam. Seja qual for o estilo, hoje além do visual existe uma busca também por algo que traga conforto para a criança”, completa Márcio.