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Notícias / Crimes

Reino Unido planeja sistema de 'previsão de assassinatos'; entenda!

Projeto, que tem causado preocupação entre defensores de direitos civis, utiliza algoritmos para processar dados de milhares de pessoas

Felipe Sales Gomes, sob supervisão de Fabio Previdelli Publicado em 08/04/2025, às 19h30

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Imagem meramente ilustrativa - Getty Images
Imagem meramente ilustrativa - Getty Images

O governo britânico está desenvolvendo um controverso programa de análise preditiva, com o objetivo de identificar indivíduos com maior probabilidade de cometer homicídios. 

O projeto, que tem causado preocupação entre defensores de direitos civis, utiliza algoritmos para processar dados de milhares de pessoas conhecidas pelas autoridades, incluindo informações pessoais de vítimas de crimes.

Originalmente batizado de “projeto de previsão de homicídios”, o programa foi rebatizado como “compartilhamento de dados para melhorar a avaliação de risco”, numa tentativa de suavizar a imagem pública da iniciativa. 

O Ministério da Justiça afirma ao The Guardian que o objetivo é fortalecer a segurança pública ao aprimorar a análise de risco de crimes violentos, mas críticos classificam a proposta como “assustadora e distópica”.

Polêmica

A existência do projeto foi revelada pelo grupo de vigilância Statewatch, que obteve documentos internos por meio de solicitações com base na Lei de Liberdade de Informação. 

A documentação aponta que dados extremamente sensíveis – como registros de saúde mental, histórico de automutilação, dependência química e situações de vulnerabilidade – estão entre as informações compartilhadas com o governo.

O Ministério da Justiça nega que dados de pessoas sem histórico criminal estejam sendo utilizados, insistindo que apenas indivíduos com ao menos uma condenação foram incluídos na pesquisa. 

No entanto, os documentos analisados pelo Statewatch sugerem o contrário: registros de pessoas que entraram em contato com a polícia como vítimas ou em contextos de violência doméstica, mesmo sem condenação, também estariam sendo processados.

O projeto, encomendado pelo gabinete do então primeiro-ministro Rishi Sunak, reúne dados de diferentes fontes, incluindo o Serviço de Liberdade Condicional e registros da polícia da Grande Manchester anteriores a 2015. Entre as informações analisadas estão nome, data de nascimento, gênero, etnia e um identificador do banco de dados policial.

Para o Ministério, trata-se de uma iniciativa de pesquisa com potencial para “melhorar a avaliação de risco de homicídio” por meio do uso de “técnicas alternativas e inovadoras de ciência de dados”.

Um porta-voz afirmou à imprensa local que o sistema não tem aplicação operacional neste momento e que um relatório com os resultados será publicado oportunamente.

Apesar das garantias do governo, organizações civis apontam riscos severos. A pesquisadora Sofia Lyall, da Statewatch, criticou duramente a iniciativa em entrevista ao The Guardian:

“Essa tentativa de prever assassinatos é mais um exemplo de um projeto distópico que busca criar perfis criminais com base em dados altamente sensíveis. Pesquisas mostram que sistemas algorítmicos de previsão são falhos por natureza. Este modelo, baseado em dados de instituições reconhecidamente racistas e discriminatórias, tende a perpetuar o viés contra comunidades racializadas e de baixa renda.”

Ela também destacou o caráter intrusivo do uso de informações de saúde mental e vício, classificando o projeto como “altamente alarmante”.

Atualmente, o sistema prisional britânico já utiliza ferramentas de avaliação de risco para monitorar indivíduos em liberdade condicional. O novo projeto pretende testar se a inclusão de dados adicionais – vindos da polícia e de registros de custódia – pode refinar esses métodos.

No entanto, especialistas alertam que, em vez de prevenir crimes, esse tipo de iniciativa pode reforçar desigualdades e aprofundar a vigilância sobre os grupos mais vulneráveis.