Quase um século antes das grandes navegações, chineses exploravam os mares com colossais navios a vela
A História que você aprendeu na escola conta sobre a descoberta europeia do caminho das Índias. No final do século 15 os portugueses e espanhóis se lançaram ao mar, movidos pelos valores astronômicos de produtos hoje corriqueiros como cravo, canela e noz-moscada. Eles acharam o caminho – não só para as riquezas como para a dominação mundial nos séculos seguintes.
E o que não acharam foi oposição. Meras décadas antes, a História teria sido muito diferente. A China tinha navios que faziam suas naus e caravelas, que impuseram terror a árabes, malaios e indianos, parecerem brinquedos.
Havia uma razão prática para as dimensões colossais dos navios das sete missões do almirante Zheng He, que, entre 1404 e 1433, chegaram até a África Oriental. Eles não eram, assim como nas navegações europeias, feitos de exploração.
Os chineses já conheciam esse caminho. Eram uma demonstração do grande poderio da China, que chamava – e ainda chama – a si própria de Zhonghua, o “Império do Centro”. As missões eram para adquirir a lealdade – e vassalagem – de líderes locais e trazer presentes exóticos ao imperador.
E isso acabou condenando a empreitada. De acordo com a ideologia confucionista que regia as decisões do trono, comerciantes são a classe mais baixa da sociedade. Assim, negócios eram uma prioridade mínima.
Diferentemente do que aconteceu com os europeus, as missões não se pagavam. Com a ascensão do imperador Xuande, em 1425, a torneira fechou e os chineses entraram num período de séculos de reclusão, o que é considerado um dos maiores erros estratégicos da História.
1. A propulsão
Juncos chineses usavam traves horizontais em suas velas, em até nove mastros. Isso resultava em menor custo, mais resistência contra ventos fortes e mais facilidade em manobras – os navios podiam velejar contra o vento. Mas vinha a um custo de peso adicional, mudando o centro de gravidade, de forma que o navio podia tombar em certas situações.
2. Defesa
24 canhões no deque superior serviam de proteção aos maiores navios. Eles tinham alcance de até 275 metros, o que não ficava a dever aos canhões europeus da época. Mas a defesa da esquadra não era tarefa dos grandes cargueiros – isso era por conta de juncos de guerra, com cerca de 50 metros – ainda assim, bem maiores que os navios europeus.
3. O controle
Os chineses inventaram o leme como conhecemos, controlados por um mecanismo de dentro do barco – navios ocidentais antigos tinham um grande remo lateral. O leme das caravelas foi uma cópia que chegou pelos árabes.
Os grandes navios do tesouro tinham um leme adicional, que podia ser removido da água, para dar estabilidade em clima desfavorável.
4. Tripulação
A primeira missão de Zheng He contou com 27.800 soldados e 317 navios, 62 deles navios do tesouro gigantes. Para ter uma ideia, em sua viagem ao mundo, em 1519, Fernão de Magalhães levou 237 homens, dos quais apenas 18 voltaram para casa
5. Acomodações
Eram quatro deques que podiam comportar até 500 passageiros – geralmente emissários estrangeiros enviados para prestar juramento de fidelidade ao imperador da China. Abaixo deles, ia uma carga pesadíssima de lastro, para manter o navio em pé diante do peso dos mastros.
6. Carga
A China considerava-se autossuficiente. Eles não importavam nada e só aceitavam ser pagos em prata. Assim, constituíam a carga principalmente as provisões para a imensa quantidade de marinheiros e também cavalos para combate. E, na volta, presentes para o imperador. Em uma das viagens, Zheng He trouxe uma girafa da África Oriental.