Uma História dos Povos Árabes é um dos melhores painéis dos 13 séculos da região
Até meados do século 7, a Arábia era um rincão isolado – e imprensado – entre duas potências: o reino persa, na região onde hoje está o Irã, e o Império Bizantino, cuja sede ficava na atual Turquia. Como explicar que, pouco mais de 200 anos depois, os árabes tenham conquistado um império com ramificações na Índia, na Espanha, no norte da África e em regiões da China?
A resposta, é claro, está na força do Islã. Desde que Maomé propagara a nova religião, no século 7, os árabes passaram a governar o mais importante pedaço do planeta. Somente 600 anos depois os cristãos conseguiram retomar a hegemonia na Europa ocidental ao expulsarem violentamente os últimos focos de resistência muçulmana na Espanha e Portugal. Desde então, a cidade de Constantinopla, atual Istambul, tornou-se a divisa oriental entre o Ocidente cristão e Oriente muçulmano – a polêmica em torno da possível entrada da Turquia na União Européia é uma prova de como essa divisa permanece viva.
Em Uma História dos Povos Árabes, o inglês filho de libaneses Albert Hourani, que faleceu em 1992 (um ano depois de terminar o livro), traça um painel revelador de como os árabes muçulmanos conseguiram levar sua fé, cultura e governo para todos esses territórios. Escrito com o rigor e a moldura clássica de um professor de Oxford, onde lecionou de 1948 a 1979, o texto, que acaba de ganhar uma versão de bolso, ajuda a desfazer o emaranhado que boa parte do Ocidente continua fazendo entre a religião muçulmana e o nacionalismo dos países de língua árabe, cujos históricos conflitos com o Ocidente têm mais raízes no colonialismo europeu que no suposto choque entre religiões.
Talvez seja por isso que, apesar de ter sido escrito dez anos antes do ataque às Torres Gêmeas, o livro não perdeu sua atualidade. Afinal, Hourani vai à essência dos acontecimentos responsáveis pela escalada do fundamentalismo na região, além de explicar, com clareza e poder de síntese raro, o desenrolar do conflito árabe-israelense. E o melhor: tudo sem perder um olhar atento às manifestações culturais e artísticas da região.