O embate entre dois dos maiores espadachins da história do Japão
Na noite que antecedeu ao mais importante duelo de sua vida, Miyamoto Musashi, considerado o maior samurai de todos os tempos, desapareceu sem deixar rastros. O adversário, Sasaki Kojiro, outro mestre imbatível na arte das espadas, interpretou o sumiço como uma declaração de covardia. Imaginou que Musashi, que ao longo da vida já fizera jorrar o sangue de mais de 60 contendores com a lâmina afiada de seu sabre, finalmente encontrara um antagonista à altura e, ciente disso, fugira do embate.
Na manhã seguinte, Kojiro chegou cedo à ilha de Funashima, local do grande confronto, marcado para a “hora do dragão” – 8 horas, nos relógios ocidentais. Por lá, nenhuma sombra de Musashi. Parecia certo: o grande samurai preferira a humilhação da fuga a morrer de forma honrada.
Mas, quando o sol já se encontrava quase a pino, pouco antes das 11 horas, Kojiro avistou, da praia, o barco que trazia Musashi. Ele se atrasara propositalmente, numa estratégia calculada, para quebrar a concentração do oponente, fazendo-o desperdiçar paciência e energia.
O aguardado duelo demorou poucos minutos. Na embarcação, a caminho do confronto, Musashi esculpira um velho remo de madeira e transformara-o em arma mortal. Mas, tão logo desceu do barco e pôs os pés na água rasa da praia, viu-se alvo de um golpe da espada de Kojiro. Esquivou-se a tempo. Os dois miravam-se em silêncio. Para vencer o inimigo, a filosofia samurai recomendava que todo o ímpeto dos músculos deveria atuar em consonância com a serenidade de espírito.
Por fim, Kojiro desferiu o que imaginou ser um um golpe fatal. A espada passou rente à cabeça de Musashi, chegando a partir a faixa cor de ferrugem que ele amarrara à testa, para prender os cabelos. Kojiro comemorou. No calor da luta, a faixa rubra, arrancada no ar, pareceu-lhe o sangue do adversário esguichando na ponta da arma. O engano custou a Kojiro a própria vida. Musashi aproveitou o momento de desconcentração do inimigo, fruto da falsa certeza da vitória, para acertar-lhe com o remo entalhado em forma de espada. Kojiro caiu morto, o crânio partido em mil pedaços. Nos lábios, trazia o sorriso de quem morrera imaginando ter ganho o maior duelo já travado entre dois mestres samurais.
MIYAMOTO MUSASHI
NASCIMENTO - 1584 (aproxim.)
PRINCIPAL TÉCNICA - Niten Ichi Ryu (combate com duas espadas)
CURIOSIDADE - Além da espada, manejava habilmente os pincéis, dedicando-se à pintura e à caligrafia
MORTE - 1643 (aproxim.), após passar a viver numa caverna como eremita
SASAKI KOJIRO
NASCIMENTO - Não há informações confiáveis a esse respeito
PRINCIPAL TÉCNICA - Tsubame-gaeshi, inspirado no vôo da andorinha
CURIOSIDADE - Há informações, não comprovadas, de que fosse surdo
MORTE - 1612 (aproxim.), em duelo com Musashi
Musashi, Eiji Yoshikawa, Estação Liberdade, 1999, 1 808 páginas (2 vol.)