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Gregos X Troianos: aceitar o cavalo foi burrice

Por dez anos os troianos resistiram ao ataque dos gregos. Mas acreditaram que o monstro de madeira era um presente inocente

01/08/2007 00h00 Publicado em 01/08/2007, às 00h00 - Atualizado em 23/10/2017, às 16h36

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Aventuras na História - Arquivo Aventuras
Aventuras na História - Arquivo Aventuras

O mito da guerra de Tróia resiste ao tempo. Passam-se os séculos e a aventura narrada na Ilíada de Homero, um dos primeiros e maiores clássicos de todos os tempos, continua a fascinar gerações. Muitos consideram essa guerra e tudo o que a cerca como o ponto de partida da história da Grécia (Tróia também era conhecida como Ílion, por isso o livro se chama Ilíada).

Mas o que o poeta grego, que teria vivido no século 8 a.C., conta na obra? Em primeiro lugar, ele não presenciou o conflito. Compôs a Ilíada mais de 400 anos depois, com base em relatos orais. O resultado é um enredo de guerra, amor e morte em que até os deuses descem do Olimpo para meter o bedelho.

Segundo a mitologia grega, quem começou a confusão foram três deusas – e tudo por causa da vaidade. Durante uma festa de casamento para a qual não tinha sido convidada, a deusa da discórdia, Eris, disfarçou-se e jogou no meio do salão uma maçã de ouro com os dizeres: “Para a mais bela”. Ela queria ver o circo pegar fogo.

Hera, Afrodite e Atena começaram a discutir sobre qual delas era a mais bonita e, portanto, digna de ficar com a maçã. Pediram para Zeus decidir. Ele, muito malandro e não querendo se queimar com nenhuma delas, disse algo como: “O quê? Tô fora. Vai perguntar pro Páris”. Páris era filho do rei de Tróia, e era considerado o cara mais lindo da Terra.

As três tentaram suborná-lo. Uma ofereceu glórias militares, outra ofereceu sabedoria e Afrodite disse que, se ela fosse a escolhida, daria a ele a mulher mais espetacular do mundo. Adivinhe quem o cara escolheu...

Para cumprir a promessa, Afrodite se sentiu obrigada a ajudar Páris a raptar Helena, mulher do rei de Esparta e considerada a Gisele Bündchen grega.

E lá foram eles para Esparta. Páris visitou Helena, jogou um charme e, aproveitando um vacilo do rei Menelau, fugiu com ela para Tróia. O traído Menelau, todos os ex-candidatos a maridos de Helena e mais Hera e Atena ficaram furiosos. Declararam guerra e se prepararam para resgatar Helena.

E assim começou a luta. O cerco às resistentes muralhas de Tróia durou dez anos. Os gregos só conseguiram penetrar na superprotegida cidade graças à astúcia de um gênio militar. No relato de Homero, quem teve a idéia do famoso cavalo oco foi o herói Ulisses. Os gregos de Esparta construíram o gigantesco animal de madeira e o deixaram na porta da cidade rival.

Os troianos aceitaram o presente imaginando que fosse uma proposta de paz. Abriram os portões e empurraram o cavalo para dentro, sem imaginar que dentro dele estavam os melhores guerreiros inimigos. Os gregos mataram os sentinelas e escancararam os portões para todo o exército entrar. Foi um massacre. É daí que vem a expressão “presente de grego”, que se refere a algum presente dado com segundas intenções. Tróia ficou em ruínas. Helena foi levada de volta para casa. Toda a família real troiana, incluindo Páris, foi morta.

VERDADEIRO OU FALSO?

A obra de Homero eternizou a guerra de Tróia. É óbvio, no entanto, que os versos da Ilíada não são um relato fiel do que aconteceu na cidade. Até hoje, por exemplo, não foram encontradas evidências da existência da estonteante Helena ou do sedutor Páris.

Por outro lado, descobertas arqueológicas indicam que, por trás da lenda, existem verdades. “Homero mistura na sua obra, como era típico da cultura grega da época, relatos históricos com narrativas míticas. Mas a história que ele conta é verossímil, apesar de ser muito difícil separar o joio do trigo”, avalia o historiador Francisco Marshall, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. É como se, daqui a milhares de anos, alguém assistisse a um filme de guerra de Hollywood. Como ele irá saber o que aconteceu de verdade e o que saiu da imaginação dos roteiristas?

ESQUELETOS

Já no fim do século 19, pesquisas conduzidas na Turquia levaram à descoberta de Tróia, não muito longe de Istambul. Sobre suas ruínas havia escombros de outras nove cidades erguidas no mesmo lugar. A existência da cidade estava, então, comprovada. Recentemente, novas escavações fizeram mais revelações. “Esqueletos humanos, inscrições de cerâmica e as próprias muralhas da cidade comprovam que Tróia foi atacada diversas vezes em um curto período de tempo, vindo a sucumbir completamente”, conta o arqueólogo Manfred Korfmann, líder de uma equipe de 350 especialistas que vem esmiuçando a região desde 1993. Segundo o arqueólogo, a descoberta de antigos muros que cercavam a cidade, além de cerâmicas que reproduzem o formato das muralhas, indicam que Tróia foi um local muito importante e um possível alvo de potências emergentes.

Professor da Universidade de Tübingen, na Alemanha, Korfmann também sai em defesa de Homero. Segundo ele, o poeta grego descreveu corretamente a geografia local. “Não existe nenhum registro arqueológico que contradiga a percepção de que Tróia e a região ao redor da cidade formaram o cenário histórico da Ilíada”, diz o arqueólogo. “Tudo sugere que o poeta deve ser levado a sério. Seu relato do conflito militar entre gregos e troianos é baseado na memória histórica dos eventos.”

Semideus do cinema

Brad Pitt fez o papel de Aquiles no filme Tróia. Como na mitologia, o calcanhar do ator deu trabalho durante as gravações

Osemideus Aquiles era filho de um mortal com a ninfa Tétis (ninfa era uma divindade que habitava rios e bosques). Ao saber que o destino do garoto era morrer cedo, Tétis o mergulhou nas águas do rio Estige, que tinha o poder de deixar as pessoas indestrutíveis. Mas ela o segurou pelo calcanhar, e onde ficou seco o menino não ganhou superpoderes. Aquiles se tornou um rapaz forte, veloz e bonito. Quando estourou a guerra de Tróia, foi convocado por Ulisses, um dos generais do combate pelo lado dos gregos. Aquiles se tornou um guerreiro imbatível. Mas isso só até o dia em que o deus Apolo dedou a Páris o ponto fraco de Aquiles: o calcanhar. Durante uma batalha, foi ali que Páris mirou sua flecha envenenada. Não deu outra. Aquiles morreu.

O FILME

A história de Tróia virou uma superprodução de cinema em 2004. Foi filmada no México e em Malta. Em vez de o bonitão ser Páris, como diz a lenda, o galã do filme é o semideus Aquiles, interpretado por Brad Pitt (que muitas consideram um deus inteiro, da cabeça ao calcanhar). No papel de Helena está a bela ex-modelo alemã Diane Kruger – Julia Roberts chegou a ser cotada para o papel. Durante as filmagens, Brad Pitt teria sofrido uma lesão – adivinhe onde – no tendão de aquiles. E teve que adiar por três meses a gravação de uma cena fundamental para a história.