'A Noite Estrelada': Como Van Gogh capturou a turbulência da atmosfera

'A Noite Estrelada', uma das obras mais icônicas de Vincent van Gogh, sempre fascinou observadores com seu céu rodopiante e vórtices psicodélicos.

Agora, um estudo recente de especialistas em dinâmica de fluidos da França e da China, publicado na revista Physics of Fluids, sugere que as pinceladas do artista holandês podem ter capturado com precisão a complexa dinâmica da turbulência atmosférica.

Essa atenção aos detalhes da natureza já havia sido destacada em um estudo italiano anterior, que analisou a posição das estrelas na pintura 'Noite Estrelada sobre o Ródano'.

O estudo, conduzido pelo astrofísico Gianluca Masi e pela matemática Antonella Basso, concluiu que Van Gogh pintou a 'Noite Estrelada sobre o Ródano' ao vivo, em cerca de meia hora, em Arles, na França, em 28 de setembro de 1888.

O quadro

O quadro, pintado em 1889, retrata uma aldeia. O céu é marcado por vórtices azuis e estrelas brilhantes. A maneira como Van Gogh criou uma ilusão de movimento tão convincente intrigou cientistas, levando-os a investigar se a obra poderia, de alguma forma, refletir a física real da atmosfera.

Os pesquisadores analisaram uma imagem digital em alta resolução de 'A Noite Estrelada' e mediram as pinceladas em 14 vórtices no céu. Comparando-as com padrões observados em folhas dançando ao vento, eles reconstruíram a dinâmica invisível da atmosfera. Além disso, analisaram o brilho relativo das cores em cada pincelada como um indicador da energia cinética no ar.

Os resultados demonstraram que o trabalho do artista reflete a lei de Kolmogorov e a escala de Batchelor, princípios que descrevem a transferência de energia cinética em fluxos turbulentos na atmosfera.

É um resultado muito curioso e que demonstra como ele intuía o fenômeno natural da turbulência, que ainda é particularmente complexo de descrever em modelos meteorológicos", afirmou Lorenzo Giovannini, físico da atmosfera da Universidade de Trento, em entrevista à ANSA.

Yongxiang Huang, coordenador da pesquisa, sugere que a precisão da representação da turbulência na obra pode derivar tanto de um estudo aprofundado do movimento das nuvens quanto de um "senso inato de como capturar o dinamismo do céu."