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Reino Unido

Após infecção de 30 mil pessoas, premier do Reino Unido pede desculpas

Rishi Sunak pediu desculpas por infecção de 30 mil pessoas com sangue contaminado entre 1970 e 1990, quando 3 mil pessoas morreram por HIV e hepatite

Gabriel Marin de Oliveira Publicado em 21/05/2024, às 15h25

O Primeiro-Ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, rotulou esta segunda-feira, 20, como um “dia vergonhoso” e se desculpou pelas mais de 30 mil vítimas infectadas com sangue contaminado por HIV e Hepatite C entre os anos de 1970 e 1990.

Desde então, o escândalo foi encoberto por governos sucessivos, resultando em uma tragédia que poderia ter sido evitada. Aproximadamente 3 mil pessoas perderam suas vidas, marcando o que é considerado o maior desastre de tratamento nas oito décadas de história do Serviço Nacional de Saúde (NHS) do país.

“Este é um dia de vergonha para o Estado britânico”, declarou Sunak na Câmara dos Comuns, a Câmara baixa do Parlamento, logo após a divulgação do relatório que culpou o governo britânico por encobrir o desastre.

Esta é uma sincera expressão de desculpas por parte do Estado a todas as pessoas afetadas por este escândalo. Não deveria ter acontecido, nunca deveria ter sido assim. Em nome deste governo e de todos os governos desde a década de 1970, peço sinceramente desculpas.", completou. 

As vítimas abrangiam indivíduos que necessitavam de transfusões sanguíneas devido a acidentes ou cirurgias, bem como aqueles que lutavam contra distúrbios sanguíneos como a hemofilia, sendo tratados com produtos derivados de plasma sanguíneo doado. O escopo de afetados também incluía os parceiros das pessoas infectadas.

“Repetidamente, indivíduos em posições de autoridade e confiança tiveram a oportunidade de interromper a disseminação dessas infecções e não o fizeram”, acrescentou o primeiro-ministro, comprometendo-se a fazer o necessário para compensar as vítimas e anunciando um plano de “indenização abrangente” para os afetados.

O relatório

O extenso relatório, de 2,5 mil páginas, é resultado de um inquérito que se estendeu por quase seis anos, iniciado por ordem da então Primeira-Ministra Theresa May em 2017. Esta iniciativa ocorreu após décadas de pressão contínua das vítimas e suas famílias. 

De acordo com as descobertas do relatório, mais de 26 mil pessoas foram infectadas com Hepatite C devido a transfusões sanguíneas entre os anos de 1970 e 1991. Além disso, cerca de 1.250 indivíduos foram infectados pelo HIV, incluindo aproximadamente 380 crianças, como resultado do uso de produtos sanguíneos contaminados. Adicionalmente, outras 5 mil pessoas desenvolveram formas crônicas de Hepatite C.

O relatório também destaca casos alarmantes, como o tratamento de crianças com distúrbios hemorrágicos como “objetos de pesquisa”. Em uma escola onde 122 alunos com hemofilia foram expostos a produtos sanguíneos contaminados entre 1970 e 1987, apenas 30 sobreviveram até hoje, conforme indicado no documento.

O autor do relatório, o juiz Brian Langstaff, enfatizou que grande parte desses incidentes poderia ter sido evitada, embora reconheça que a prevenção total pode não ter sido possível. Ele concluiu que os sucessivos governos e profissionais de saúde falharam em mitigar os riscos, mesmo quando se tornou evidente, no início da década de 1980, que o HIV poderia ser transmitido pelo sangue.

Além disso, ficou claro que os doadores de sangue não foram devidamente examinados e que produtos sanguíneos foram importados de países como os Estados Unidos, onde doadores com histórico de consumo de drogas e prisioneiros estavam envolvidos.

O relatório também apontou tentativas de ocultar o escândalo, incluindo evidências de que funcionários do Departamento de Saúde destruíram documentos em 1993. Langstaff observou que, ao analisar a resposta do NHS e do governo em geral, fica claro que houve um encobrimento, não necessariamente uma conspiração orquestrada, mas uma ocultação mais sutil, difundida e perturbadora em suas implicações, que obscureceu a verdade em grande medida.

Luta contra os ativistas

Segundo 'O Globo', ativistas e vítimas da contaminação sanguínea, juntamente com suas famílias, expressaram uma mistura de alívio e indignação diante das conclusões do relatório. O alívio veio da validação e justificação que sentiram ao ver suas lutas reconhecidas oficialmente. No entanto, a raiva persiste devido ao longo período que o relatório levou para ser concluído, um atraso que custou a vida de algumas vítimas e até mesmo de funcionários que poderiam ter sido responsabilizados.

Andy Evans, presidente do grupo ativista 'Tainted Blood', destacou a importância do relatório e compartilhou a sensação de finalmente ser ouvido e compreendido após décadas de silêncio e negligência. “Por gerações, temos sido ignorados. Às vezes, durante os últimos 40 anos, parecia que estávamos gritando para o vazio”, disse Evans aos repórteres.

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