No alto do caminho mais perigoso de alpinismo na mais famosa montanha do Brasil, um grupo de entusiastas descobriu um estranho corpo conservado
Wallacy Ferrari Publicado em 25/05/2020, às 08h00
No dia 19 de setembro de 1949, um grupo de cinco amigos, entusiastas do alpinismo, saíram da Praça General Tibúrcio em direção ao mundialmente famoso Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro. Em uma trilha inédita às já exploradas até então, decidem seguir um caminho mais arriscado do que as outras trilhas disponíveis.
O caminho era considerado um dos mais difíceis e perigosos disponíveis no país, mas ao longo do percurso, os escaladores descobriram que esse não era o principal mérito obtido. Começaram a subir por volta das 8h00, entretanto, aproximadamente às 11h30, se depararam com uma silhueta, presa entre uma fenda estreita da rocha. Era um corpo humano.
O cadáver, pendurado pelo pescoço, estava com os cabelos longos. Um alpinista inclusive, chegou a ter os cabelos encostando em seu ombro com o vento forte na montanha. Com 1,60m de altura, o cadáver vestia um suéter sobre uma camisa de alças e não tinha identificação ou vestígios de que sofreu algum tipo de agressão.
Ao confirmarem que se tratava de um corpo, interromperam a escalada imediatamente e avisaram a polícia, que solicitou a ajuda dos mesmos escaladores para a retirada do corpo por via de cordas. O corpo, acolhido por bombeiros, foi passado para legistas, que ao analisarem, notaram que o corpo não estava em estado de decomposição e, sim, mumificado.
Os legistas concluíram que o cadáver estava preso na montanha há aproximadamente seis meses e se mantinha conservado graças a reação do sal, proveniente da maresia e do mormaço na região, com o corpo, absorvendo a água e desacelerando o processo de putrefação de maneira que o cadáver se mantenha conservado.
Sem nenhum documento, ninguém buscou identificar o corpo no Instituto Médico Legal. Não foi possível localizar nenhum familiar ou amigo por via da coleta, mas foi possível concluir que se tratava de um homem. Jornais fluminenses, na época, levantaram a hipótese de ser os restos mortais de um mendigo, explicando a cabeleira longa.
Em entrevista a BBC, o historiador da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Milton Teixeira, acredita há uma possibilidade de se tratar de um pescador e artesão português que residiu em uma caverna nos anos 1940. Já Rodolfo Campos, que fez um curta metragem sobre a Múmia de Gallotti, levanta a possibilidade de ser um caso de transfobia.
“Por ser um homem vestido de mulher e ter os cabelos compridos, suspeito que fosse um travesti que, talvez, estivesse fugindo de alguém ou tentando se esconder na mata. Mas é impossível afirmar com certeza”, indagou Rodolfo em entrevista a BBC.
Além das inúmeras dúvidas sobre os motivos de estar no local e sobre sua identificação, há um mistério em relação ao paradeiro do corpo; não há registro posterior de um deslocamento da “múmia” para um local apropriado. Tudo indica que, pela falta de documentação e reconhecimento parental, a mesma tenha sido enterrada como indigente.
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