Há 63 anos, a vira-lata com mistura de husky-spitz se tornava o primeiro ser a orbitar a Terra
Em 3 de novembro de 1957, a cadelinha Laika que vivia nas ruas de Moscou, se tornou o primeiro ser a orbitar a Terra. Com o coração acelerado e a respiração ofegante, o animal ingressou no Sputnik 2, numa viagem só de ida ao espaço. Era uma desgraça anunciada.
Os experimentos
Pouco menos de uma semana que o Sputnik 1 se tornara o primeiro satélite artificial a orbitar a Terra, os cientistas liderados por Vladimir Yazdovsky receberam a notícia que deveriam se apressar para montar o Sputnik 2. O pedido veio do premiê Nikita Khrushchev, que solicitou um voo para coincidir com o 40º aniversário da Revolução Bolchevique da Rússia.
Apegados aos seus cachorros de laboratório, os soviéticos passaram a procurar por animais de rua que pudessem cumprir a missão suicida canina. Os testes iniciais determinavam obediência e passividade, e assim que os finalistas passaram de fase foram colocados em minúsculas cápsulas por dias.
Os cientistas verificaram, ainda, as reações dos cães às mudanças na pressão do ar e aos ruídos altos que os acompanhariam durante a decolagem. Nomeada de Laika, a cadela vira-lata com mistura de husky-spitz foi a escolhida para esta missão só de ida. Segundo rumores da época, a cadela Albina teria se adaptado melhor aos experimentos, no entanto, como havia acabado de dar a luz, os cientistas optaram por Laika.
Pouco antes de ser enviada ao espaço, a cadelinha de aproximadamente 3 anos de idade, foi levada para casa de Vladimir Yazdovsky. O cientista queria fazer algo de bom pelo o animal e dar um dia tranquilo antes da missão que iria matá-la.
A decolagem
Superaquecida, apertada, com medo e provavelmente com fome, Laika decolou no Sputnik 2, no dia 3 de novembro às 5h30. A espaçonave atingiu cinco vezes mais os níveis normais de gravidade.
Os ruídos e pressões do ar fizeram os batimentos cardíacos de Laika dispararem para o triplo da taxa normal. Além disso, sua respiração quadruplicou se comparado com os níveis normais, como apontam os dados do Museu Nacional do Ar e do Espaço.
Visivelmente aterrorizada, a cadelinha conseguiu atingir a órbita da Terra viva, circulando pelo planeta por volta de 103 minutos. No entanto, a perda do escudo térmico elevou a temperatura na cápsula, chegando aos 90 graus dentro da espaçonave.
Na época, a União Soviética falsificou os documentos alegando que Laika teria sobrevivido por dias. Pouco tempo depois, O New York Times chegou informar, ainda, que Laika poderia ser resgatada. No entanto, sabe-se que o Sputnik 2 habitou a órbita por cinco meses, mas sem passageiros.
A repercussão
Diversos ativistas protestaram contra a missão, pois sabiam que a União Soviética não tinha criado uma tecnologia capaz de devolvê-la em segurança à Terra. Na Grã-Bretanha, a Royal Society for the Prevention of Cruelty to Animals e a British Society for Happy Dogs, manifestaram-se contra o lançamento. Além disso, outros ativistas marcharam em direção à sede das Nações Unidas em Nova York.
Segundo estudos mais recentes, mesmo que Laika tivesse muita comida, água e oxigênio, a cadelinha teria vindo a óbito assim que a espaçonave reentrou na atmosfera. Anos mais tarde, alguns dos cientistas que participaram da missão declararam arrependimento pela trágica morte da vira-lata.
Em 1985, o filme sueco My Life as a Dog retratou a história de Laika, assim como outras obras cinematográficas, literárias e musicais, que mantiveram viva a memória do primeiro ser a orbitar a Terra.
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