A estranha prática foi pauta do livro do escritor e jornalista Gay Talese, e publicada originalmente pela revista The New Yorker
No ano de 1980, o escritor e jornalista americano Gay Talese recebeu uma carta de um homem misterioso, com características de um voyeur. Na carta, ele afirmou ter construído uma estrutura no sótão de seu motel, para observar os hóspedes em suas relações mais íntimas, com a ajuda de sua mulher.
Embora o voyeurismo seja uma prática em que um indivíduo possui prazer sexual por meio da observação de outras pessoas realizando sexo ou pelo simples fato de estarem nuas, este voyeur afirmava ser um observador do comportamento humano, em geral.
Chamado Gerald Foos, o voyeur, admitiu ao escritor ter comprado um motel no Colorado, em 1969, com o intuito de realizar esta prática. Na carta, disse ainda ter espionado os hóspedes por pelo menos 15 anos, e convidou o Gay Talese para conhecer as instalações.
Ao chegar no destino, o jornalista recebeu a informação de Foos que só colaboraria com a elaboração do livro se não fosse identificado. Em um primeiro momento, Talese não aceitou a proposta, até que anos mais tarde recebeu os escritos do voyeur, que o fizeram repensar.
Os relatos de Foos continham narrativas sexuais e uma análise filosófica do comportamento humano, a partir do que ele observava. “Estou profundamente descontente que somente eu deva suportar o fardo de minhas observações. Esses indivíduos jamais encontrarão felicidade e o divórcio é inevitável”, explica Foos em uma de suas observações.
Em 2013, o voyeur permitiu que Talese utilizasse o seu nome em seu livro. Publicado originalmente pela revista The New Yorker, o escritor foi alvo de críticas. Na época, os leitores não aceitaram o fato do jornalista saber sobre a história de Foos e não ter feito nada.
A obra apresenta relatos chocantes do dono do motel, como ele ter presenciado o assassinato de uma mulher, em 1977. Em geral, a trama é composta por momentos emocionantes que instigam e prendem a atenção do leitor.
Apesar de ter dúvidas de algumas informações cedidas pelo homem, o escritor afirma que a obra promete uma reflexão, mas que não pode garantir que todas as histórias sejam inteiramente verídicas. “Não tenho nenhuma dúvida de que Foos era um voyeur épico, mas às vezes podia ser um narrador impreciso e não confiável”, disse Gay Talese.