A mulher teve medo do mar durante a vida toda, e, quando decidiu enfrentá-lo, foi vitimada pelo trágico naufrágio brasileiro de 1989
No Réveillon de 1989, aquela que deveria ter sido uma luxuosa viagem de navio pela Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, marcada por uma privilegiada visão da queima de fogos, se transformou em uma tragédia após a embarcação Bateau Mouche IV afundar no oceano, causando a morte de 55 pessoas.
Entre as vítimas, estava a atriz de teatro e novela Yara Silva do Amaral, então aos 52 anos. Ela fez o cruzeiro acompanhada de sua mãe, Elisa Gomes, de 73 anos, e também de um casal de amigos.
Um fato triste e irônico a respeito de Yara é que ela teve medo do mar a vida toda, e adiou participar desta viagem de Réveillon durante três anos. No fim, acabou aceitando o convite de sua amiga, Dirce Grotkowsky, bem no ano fatídico.
Em entrevista ao UOL no ano de 2021, Neusa Rodrigues Amaral, irmã da atriz falecida, falou sobre a perda (vale mencionar que o naufrágio também levou sua mãe, de forma que foi um luto duplo):
A Yara tinha muito medo de água, não entrava nem na piscina da casa dela. Mamãe também, a mesma coisa. Mas ela sentia uma gratidão muito grande pela Dirce, e, mesmo incomodada com a ideia, acabou aceitando ir", explicou.
Por sorte, os dois filhos adolescentes da atriz acabaram cancelando sua ida no Bateau Mouche IV, preferindo, em vez disso, participar de uma festa de seus amigos.
Larize Ferreira Amaral, sobrinha de Yara que sobreviveu ao naufrágio, também conversou com o UOL, revelando que a mulher não morreu afogada, diferente da maioria das vítimas.
Quando ela [Yara] foi ao banheiro e viu a água subindo no vaso sanitário, ela sofreu um ataque cardíaco. Na verdade, ela não morreu afogada, ela teve um infarto só de ver a água entrando no barco", narrou.
Já Elisa, a mãe da atriz, se afogou. Dirce, por sua vez, conseguiu se sobreviver ao se segurar em uma mesa.
Outro detalhe é que, durante um evento de família, cerca de um mês antes de sua morte, Yara do Amaral fez um comentário que ganharia tons sombrios após aquele Réveillon: "Desde pequena, eu sempre tive a impressão de que um dia uma onda me levaria", disse a atriz na ocasião, respondendo a um comentário sobre não saber nadar.
Ocorrido há 35 anos, o naufrágio do Bateau Mouche IV é uma mancha na história brasileira. A embarcação afundou devido a erros humanos: transportava o dobro de passageiros que sua capacidade permitia, e ainda contava com uma série de irregularidades.
Quando começaram os fogos de artifício, houve um deslocamento de pessoas para uma única parte do barco, o desequilibrando. Já algumas irregularidades que contribuíram para o desastre foram o posicionamento inadequado de duas caixas d'água no convés, a substituição de um piso de madeira por outro de cimento e a presença de furos no casco do navio.
A tragédia, infelizmente, também é cercada de impunidade. Muitas famílias ou precisaram esperar anos para ser indenizadas, ou nunca foram, segundo explicado pela BBC. Enquanto isso, os três sócios do Bateau Mouche fugiram para a Europa ainda em 1994.
Vale apontar que a HBO produz um documentário a respeito do naufrágio da embarcação.