A dura saga das mulheres grávidas enviadas para campos de concentração
Não é difícil imaginar o que acontecia com as mulheres grávidas que chegavam nos campos nazistas. Em primeiro lugar, era difícil sobreviver ao transporte que levava os judeus de suas cidades para os Campos que, em geral, localizados na Polônia.
Eram embarcados em vagões de gado, tão espremidos que nem podiam se mexer, sem água, comida e obrigados a fazer suas necessidades fisiológicas em pé, entre todas as pessoas.
Essas viagens podiam levar dias, semanas, num calor abrasador no verão e num frio congelante no inverno. Sobreviventes relatam que os mais fracos morriam na viagem e continuavam de pé, apertados uns contra os outros. Às vezes, em algumas paradas, as portas dos vagões eram abertas para que retirassem os cadáveres. Mulheres grávidas tinham menos condições de sobreviver a esse suplício.
Quando os trens chegavam nos campos de concentração ou de trabalhos forçados, era feita a seleção para ver quem poderia trabalhar como escravo (Nos campos de extermínio, todos iriam direto para as câmaras de gás). Duas filas eram formadas, homens de um lado, mulheres e crianças de outro. Um oficial da SS, em geral médico, muitos médicos alemães trabalharam ativamente no Holocausto, selecionavam quem aparentava saúde e força para trabalhar.
Mulheres saudáveis, entre os 14 e 40 anos, viravam escravas. As mulheres que carregavam filhos no colo ou estavam grávidas, eram separadas e encaminhadas diretamente para as câmaras de gás. Aos alemães não interessavam prisioneiros que não fossem produtivos, davam sobrevida a quem pudesse trabalhar.
Há relatos de mulheres que, cientes do que aconteceria se fossem descobertas, conseguiam esconder a gravidez e trabalhar como escravas. Uma vez num campo de trabalhos forçados, com os famosos uniformes listrados, largos e soltos, a barriga ficaria disfarçada. Era difícil manter a gravidez nas condições em que viviam, com excesso de trabalho, pouco descanso e alimentação mínima, mas milagres acontecem.
Um desses milagres aconteceu com sete judias que eram escravas num dos subcampos de Dachau, na Alemanha. (Muitas vezes havia um campo central e vários subcampos subordinados a esse). Os bombardeios aliados estavam cada vez mais próximos, o fim da guerra era questão de dias.
O comandante do campo descobriu que sete mulheres estavam grávidas. Ele imaginou que se permitisse que dessem à luz, seria perdoado quando libertassem o campo. Enviou as sete mulheres para o subcampo de Tauferin, onde havia um ambulatório, e encarregou o médico judeu, dr. Kovac, para cuidar delas. As sete deram à luz a bebês saudáveis, apesar de magros e pequenos.
Entre essas judias, estava a romena Elisabeta, que deu à luz a George Legmann. George, sua irmã nascida após a guerra, e seus pais, vieram para o Brasil em 1961. O comandante foi preso, julgado, condenado e enforcado. Tinha cometido muitos crimes e maldades para que seu gesto de compaixão fosse o suficiente para perdoá-lo.
*Marcio Pitliuk é escritor, diretor de cinema e palestrante especialista no Holocausto. Membro do comitê acadêmico do StandWithUs-Brasil. Recentemente, lançou a obra 'O engenheiro da morte: A participação da elite alemã no Holocausto'.