De caráter secreto, o acordo de troca de tecnologias só foi assumido publicamente após o encerramento do mandato de José Sarney
De caráter secreto, o então presidente José Sarney ficou extremamente zangado quando viu os jornais de todo o país publicando matérias sobre o Programa Nuclear Paralelo, em 1986. A Folha de São Paulo, especificamente, divulgou inicialmente com exclusividade a existência de covas revestidas de cimento para a realização de testes nucleares. Assim, o programa nuclear brasileiro era revelado.
As cisternas, que chegavam a ter 320 metros de profundidade, só foram assumidas publicamente, como estruturas para receber bombardeios, pelo presidente após o fim de seu mandato, no ano de 1990, durante uma entrevista para a TV Globo. Apesar do interesse de Sarney, o programa começou a ser executado em governos anteriores, durante o período militar.
O local escolhido para a realização dos testes foi a Serra do Cachimbo, após estudos geológicos e hidrológicos da região desde 1981, que apontaram que o local seria seguro para a execução da obra. A solicitação de averiguação partiu do Centro Técnico Aeroespacial, administrado pelo extinto Ministério da Aeronáutica. O motivo seria a execução do Acordo nuclear Brasil-Alemanha, assinado em 1975 pelo presidente Ernerto Geisel.
O tratado buscava a transferência de tecnologias: a construção de oito reatores nucleares no Brasil permitia que a energia nuclear fosse compartilhada com ambos. Porém, com interferência dos Estados Unidos, não foi permitida a transferência de tecnologia alemã para o enriquecimento de urânio. Com a intromissão, foi necessário o desenvolvimento de um sistema próprio nacional.
Dos oito reatores, dois foram concluídos até hoje e um permanece com a construção interrompida, ambos em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. Além dos testes nucleares, o lugar seria dedicado também para o armazenamento de lixo atômico proveniente da produção de urânio dos reatores instalados em Angra.
Quando as adaptações começaram a ser instaladas, a previsão de conclusão era dada para 1991. A reportagem, entretanto, não era esperada pelo Governo, atrapalhando os planos para progredir nos resultados de pesquisas sobre bombas nacionais. No ano seguinte, o senado solicitou a criação de uma comissão a respeito de informações sobre as instalações na Serra do Cachimbo, mas o assunto foi barrado.
Apesar do potencial desenvolvimento nuclear do Brasil, o programa foi interrompido a mando do presidente Fernando Collor de Mello, que foi pessoalmente a Serra para inspecionar o fechamento da base, vedando todos os buracos de explosão subterrânea. Simbolicamente, o presidente foi convidado pelos membros da FAB a jogar uma pá de cal sobre o buraco, representando o fim do projeto.
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