Em entrevista ao site Aventuras na História, Nicholas Martin, roteirista do filme sobre Golda Meir, conversa sobre os bastidores do filme
Teve estreia nos cinemas brasileiros no último dia 31 o filme ‘Golda – A Mulher de Uma Nação’, do diretor Guy Nattiv. A produção — que possui recorte histórico e político da Guerra do Yom Kippur, ocorrida em 1973 — aborda sobre a vida de uma importante personalidade: Golda Meir, quem foi fundadora e primeira-ministra do Estado de Israel.
"Primeira-Ministra israelense, Golda Meir (Helen Mirren) ficou conhecida como a Dama de Ferro de Israel, responsável por difíceis decisões durante a Guerra do Yom Kippur, em 1973. Apoiada pelo presidente americano Henry Kissinger (Liev Schreiber), Golda comandou um contra-ataque quando Síria e Egito atacaram Israel de surpresa durante o feriado judaico. Sua ação foi fundamental no andamento do conflito e a salvação de milhares de vidas. Baseado em fatos reais", explica a sinopse do filme no site Kinoplex.
O filme, porém, não esteve imune a críticas, que vão desde a escolha da atriz para o papel principal até mesmo ao legado da líder política. O site Aventuras na História conversou com o roteirista do filme, Nicholas Martin, que rebateu as críticas e falou mais sobre o longa.
A princípio, é importante destacar que a história de Golda Meir possui grande complexidade, uma vez que se trata de uma personalidade controversa. Para o roteirista, o primeiro desafio foi entender a história.
Eu pude ver que essa Guerra, a de Yom Kippuer, foi um momento tão importante e vital na vida dela, que remonta toda sua experiência da infância, de viver nos Estados Unidos e entender as políticas americanas. A parte difícil, de fato, foi entender uma história tão grande", disse Martin.
O entrevistado, inclusive, contou que ficou surpreso ao descobrir que, em Israel, Golda era uma figura nada popular, já que nos EUA ela sempre foi vista de maneira muito positiva.
Em Israel, lembro-me de tentar contratar um pesquisador e conversei com algumas pessoas que simplesmente disseram: "Não vou trabalhar em um filme sobre essa mulher."
Assim, tentar compreender essa raiva tornou-se uma parte significativa do processo de escrita do roteiro.
De acordo com Martin, o grande problema existe no fato de que a opinião israelense sobre a primeira-ministra foi moldada imediatamente após o término da Guerra do Yom Kippur e eventos subsequentes.
Assim, ele considera que "a imagem que eles tinham da Golda como uma mulher idosa estúpida, pega de surpresa e que foi uma líder terrível, simplesmente não era precisa porque grande parte das informações estava em sigilo."
Está claro que ela tomou decisões muito boas durante a guerra. E muitas das informações que estavam sendo fornecidas a ela, especialmente pela inteligência militar, estavam simplesmente erradas. Então, a surpresa foi realmente causada por todas as informações ruins que ela estava recebendo. Ela não era, ela acabou assumindo total responsabilidade pela guerra."
"Mas foi muito, muito doloroso para ela, acho, não poder contar a verdade sobre o que realmente aconteceu. Então, acho que eu daria a ela nove em dez por sua conduta durante a guerra. Acho que a maioria dos israelenses teria dado um ou dois em dez. Mas acredito que esse filme está realmente mudando as coisas", considerou.
Sobre às críticas em relação à escolha da atriz que interpretou Golda, o roteirista declarou:
Só tenho uma coisa a dizer, e é o seguinte: você acha que ela [Helen Mirren] fez um bom trabalho? Então, se você acha que a atriz interpreta bem, esse argumento de que ela não é judia simplesmente perde a validade, não é mesmo? Não é mais um argumento, porque o argumento seria, bem, ela não pode jogar golfe porque não é judia".
Seguindo seu raciocínio, Martin ainda declarou: "Eu diria que não sou judeu. Eu escrevi o roteiro. Eu não deveria ter escrito esse roteiro por que não sou judeu? Quero dizer, o espaço no mundo ocidental agora, onde artistas, escritores e atores estão trabalhando, está ficando cada vez menor".
Eu diria que agora, metade dos projetos em que estou trabalhando, há algum problema com alguém dizendo: Bem, você não pode fazer isso, você não pode fazer aquilo por qualquer motivo. Os motivos são todos muito óbvios."
Por fim, o roteirista apontou: "Acredito que a audiência não se importa e os israelenses realmente não se importam. E a família de Golda também não se importa. Eles não se importam mesmo."
Confira a entrevista completa no vídeo abaixo!