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Matérias / Crimes

Prostituição, sequestro e assassinato: Enriqueta Martí, a cruel Vampira de Barcelona

Cometendo os mais brutais atos contra crianças, a espanhola administrava um bordel infantil e usava restos mortais para vender curas falsas

Alana Sousa Publicado em 17/10/2020, às 12h00

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Fotografia de Enriqueta Martí, a Vampira de Barcelona - Wikimedia Commons
Fotografia de Enriqueta Martí, a Vampira de Barcelona - Wikimedia Commons

A cidade de Barcelona do início do século 20 ficou aterrorizada pelas ações de Enriqueta Martí. Conhecida como a Vampira de Barcelona, a mulher foi de uma pobre babá a uma temida cafetina e assassina de crianças. Sua vida, tão misteriosa quando seus crimes, terminou de uma maneira tão cruel quanto seus próprios atos.

Nascida em 1868, Enriqueta se mudou muito jovem para Barcelona, onde vivia em uma pobreza extrema. Casou-se, em 1895, com o pintor Juan Pujaló, mas em pouco menos de uma década o casamento desmoronou — graças às muitas traições da mulher.

Tendo que se virar para sobreviver sozinha, ela prestava serviços como babá e empregada doméstica durante o dia, além de pedir esmolas na rua. Entretanto, ao anoitecer, se vestia com as melhores roupas e atuava como prostituta.

Vendo que este poderia ser um ramo que lhe renderia muito dinheiro, em 1909 resolveu abrir o próprio bordel, que logo atraiu os homens mais ricos da região. Foi quando, ao ver algumas necessidades incomuns de seus clientes, tomou um rumo sombrio.

Prostituição e assassinatos de crianças

Com a desculpa de que iria cuidar de crianças pobres, Enriqueta sequestrava menores de idade, entre 5 e 15 anos, e os levava para trabalhar em seu bordel. Tentando atrair uma clientela ainda maior, vagava por outras casas noturnas em Barcelona oferecendo seus serviços ilegais. Algo que lhe deu dinheiro e uma posição entre os mais afortunados da Espanha.

A prostituição infantil evoluiu para o assassinato dessas mesmas crianças. Fazendo papel de feiticeira, Martí oferecia poções, pomadas e remédios que supostamente curariam a tuberculose, que era muito temida na época. Além disso, a psicopata dizia que beber sangue de criança poderia trazer imunidade a doenças incuráveis, sem saberem da indústria assassina na qual ela fabricava esses medicamentos, diversas pessoas compravam e deixavam-na cada vez mais rica.

Enriqueta presa pela primeira vez / Crédito: Wikimedia Commons

Os elixires eram feitos dos restos mortais das crianças que ela matava. A espanhola dissecava suas vítimas e extraía gordura, cabelo, ossos e sangue para vender curas falsas. Cada vez mais insana, Enriqueta queria aumentar mais ainda sua rede de fiéis clientes, foi quando em um deslize, foi presa pela primeira vez.

Em 1909, foi acusada de administrar um bordel de prostituição infantil, mas graças a seus contatos com pessoas de poder, foi rapidamente liberada — e voltou a seu incansável trabalho. No mesmo período, boatos de que havia um sequestrador de menores de idade à solta começavam a circular pela cidade, porém, foram descreditados pelo governador Manuel Portela Valladares.

A mídia, no entanto, abraçou a narrativa e passou a publicar desaparecimentos com alta frequência — o que viria a ser o declínio da Vampira de Barcelona. No ano de 1912, os jornais estavam apavorados pelo criminoso a solta. Até que o sumiço da pequena Teresita Guitart viria a espalhar uma onda de medo e indignação contra a ineficácia das autoridades.

A prisão da Vampira de Barcelona

Teresita tinha sido raptada por Enriqueta em uma tarde do dia 10 de fevereiro daquele ano. Em minutos de descuido da mãe, a criminosa abduziu e levou a criança consigo. Semanas se passaram e a menina estava sendo mantida em cativeiro no apartamento de n° 29, em Carrer Ponent.

Com os cabelos cortados, a assassina esperava que ninguém conseguisse reconhecer Guitart. Porém, seu plano fracassou quando sua vizinha, Claudia Elías, avistou uma criança com olhar apavorado na janela, então, decidiu contatar guarda municipal chamado José Asens.

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 Martí e as duas meninas raptadas / Crédito: Wikimedia Commons

O oficial reportou o caso para seu chefe e naquela madrugada decidiram ir até a casa de Martí. Chegando lá, a polícia se deparou com duas meninas, entre elas Teresita, que era obrigada a responder pelo nome de Felicidade e, por um momento, hesitou em falar sua verdadeira identidade. A outra era Angelita, que havia sido roubada de sua mãe, uma cunhada de Enriqueta, quando era recém-nascida.

“Esta manhã um guarda municipal encontrou a menina desaparecida. Ela foi sequestrada por uma mulher na casa dos quarenta, chamada Enriqueta Martí, em uma casa na rua Poniente. Quando o público soube da notícia, eles se aglomeraram em frente à casa de Enriqueta e, para evitar um ataque, as forças da ordem pública tiveram que ir. Vou expandir nos detalhes”, dizia um dos jornais de Barcelona.

Levada para prestar depoimento, Enriqueta negava todas as acusações, mas devido inconsistências nas falas, as autoridades espanholas decidiram fazer uma inspeção na infame casa que as duas garotas foram encontradas.

Uma investigação mais aprofundada revelou vestígios de sangue, facas ensanguentadas, ossos humanos e um armário cheio de roupas de luxo e perucas, que eram usadas pelos menores no bordel.

Enviada à prisão Reina Amalia, a Vampira de Barcelona permaneceu presa, ao mesmo tempo em que a polícia corria para conseguir provas para condenar a mulher. Passando por todas as casas que a homicida tinha morado, os detetives encontravam restos mortais em cada uma delas. Em um apartamento, os policiais chegaram a encontrar um crânio de uma criança de três anos e ossadas escondidas em paredes falsas.

Esperando julgamento, a serial killer tentou se matar cortando os pulsos, mas falhou. Do lado de fora, o povo exigia que ela fosse levada a julgamento e executada na forca; o que nunca chegou a acontecer.

No dia 12 de maio de 1913, Enriqueta foi linchada por companheiros de cela, apesar de seu atestado de óbito definir a morte como câncer de útero. O falecimento levantou questões como uma morte encomendada por algum antigo cliente, mas a teoria nunca foi comprovada. A mulher entrou para a história da Espanha como uma das mais cruéis e macabras do país.


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