Ainda assim, a pintora consolidou-se como uma das artistas mais simbólicas de todo o México
“É um crime ser mulher e ter talento”, chegou a dizer a pintora mexicana María Izquierdo em 1953 sobre um episódio que a abalou profundamente anos antes. Em 1945, foi escolhida pelo governo para pintar um mural de 155 metros quadrados no Palácio Nacional, por quase 35 mil pesos, mas recebeu críticas de Diego Rivera e de David Alfaro Siqueiros — de quem antes recebia elogios — e não pôde realizar a obra.
De acordo com Dina Comisarenco Mirkin, autora de 'Eclipse de Siete Lunas — Mujeres Muralistas en México', os artistas concluíram que María não tinha muita experiência com afresco e sugeriram que sua obra fosse produzida em um mercado ou escola.
“Era preferível colocá-la em algum outro edifício de menor importância”, disseram. Mais tarde, ela afirmaria que lhe faltou oportunidade: “Até hoje só oferecem esses trabalhos aos mestres homens, campo que me foi negado em meu próprio país”.
Mas, ainda assim, María quebrou as barreiras do machismo em sua trajetória. Em 1930, suas obras foram expostas no Art Center de Nova York, o que a transformou na primeira mulher mexicana a ter uma mostra individual nos EUA. Os temas vão de retratos e cenas de circo até paisagens e natureza morta, sempre com cores intensas. “Esforço-me para mostrar o México autêntico que sinto e amo.”
Em seus autorretratos, María Izquierdo expressa o orgulho que sente por suas raízes mexicanas, retratando cenários bucólicos e montanhosos, roupas tradicionais (que ela costumava usar) e penteados com flores, além de formas robustas e cores fortes, que enaltecem a cultura do país.
Nascida em 1902 em San Juan de Los Lagos, um pequeno povoado de Jalisco, ficou órfã de pai ainda jovem. Sua mãe casou-se novamente e ela passou a ser criada pelos avós maternos em ambiente rural. Quando criança, sofreu um acidente de cavalo e ficou fascinada pelo animal, muito presente em suas obras.
Em 1923, María mudou-se para a Cidade do México e deu início à sua vida de artista profissional. Lá, entrou na Academia de Belas Artes de San Carlos, onde conheceu seus mentores Diego Rivera e Rufino Tamayo, mas logo abandonou os estudos. A partir daí, passou a desenvolver suas próprias técnicas de pintura.