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Matérias / Estados Unidos

Descasos, abusos e omissão: os horrores de Willowbrook, o maior hospital psiquiátrico dos EUA

Instituição que cuidaria de crianças era um sonho que se transformou no mais temível pesadelo macabro — que só caiu no consentimento do público depois de um documentário

Paola Churchill Publicado em 28/08/2020, às 10h48

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Pacientes sofrendo no hospital - Minnesota Historical Society
Pacientes sofrendo no hospital - Minnesota Historical Society

Após o fim da Segunda Guerra Mundial, Willowbrook tinha um futuro incerto. Alguns queriam que a grande área em Staten Island fosse usada para cuidar de veteranos doentes, mas o governador de Nova York na época, Thomas Dewey tinha outros planos para o local.

O político argumentava que tinha milhares de crianças com alguma deficiência mental  no estado precisando de uma casa e que “nunca poderiam se tornar membros da sociedade” e que necessitavam de “muita ternura e carinho”, então o lugar se tornou um hospital psiquiátrico para pequenos com algum problema.

O purgatório

Se a ideia era pra ser um lar acolhedor a princípio, a instituição virou sinônimo de injustiça social e falhas graves no sistema psiquiátrico estatal. A Escola Estadual Willowbrook foi aberta em outubro de 1947, admitindo 20 pacientes com algum tipo de deficiência mental.

A Escola Estadual de Willowbrook, em Staten Island / Crédito: Wikimedia Commons

Não demorou muito para o local ficar lotado e falta de profissionais para cuidar dos enfermos. Em 1955, atingiu sua capacidade máxima de quatro mil pacientes, pouco depois em 1960, um surto de sarampo matou 60 crianças.

Havia poucas pessoas qualificadas para trabalhar e em alguns prédios, inclusive, os deficientes eram deixados aos montes no mesmo quarto, todos chorando e encharcados de fezes e urina. Muitos ainda ficavam sem roupas e sem supervisão. O abuso sexual e físico feitos pelas mãos dos cuidadores não era algo incomum.

Pacientes da instituição/ Crédito: Minnesota Historical Society

Em 1969, o instituto já era a maior instituição mental dos Estados Unidos, atingindo a superlotação de 6.200 residentes que passaram pelas situações mais deploráveis que qualquer ser humano poderia imaginar.

O terror televisionado

Dois jornalistas, Jane Kurtin e Geraldo Rivera, decidiram cobrir os horrores do lugar. Com a chave de um informante que sabia que seria demitido do hospital psiquiátrico — por isso decidiu ajudá-los —, Rivera e um operador de câmera entraram no prédio seis e ficaram horrorizados com aquilo que seus olhos viram.

As cenas chocaram milhares de telespectadores do canal WABC-TV, que viram a imagem de pacientes com problemas mentais amontoados, sem a permissão de sair de dentro do lugar e dormindo no chão frio e duro.

O fedor das salas, que exalava dos pacientes, segundo o repórter, remetia a morte ou doenças. Riveira chegou até entrevistar uns dos internados, um jovem de 21 anos com paralisia cerebral, Bernard Carabello, que descreveu a localidade como uma “verdadeira desgraça”.

Algumas crianças eram pacientes do hospital / Crédito: Minnesota Historical Society

“Fui espancado com paus, fivelas de cinto. Eu chutei minha cabeça contra a parede pelos funcionários” lembrou Carabello,“a maioria das crianças ficava nua na sala de estar, sem roupas. Também houve muitos abusos sexuais de funcionários para residentes.”

O final da tortura

Dois meses após o especial, os moradores de Staten Island fizeram uma ação coletiva contra Willowbrook, o ato marcaria o começo do fim do hospital psiquiátrico. Foi um processo lento e atrasado, só fechando suas portas em 1987, anos após ser projetada.

Mas apesar do longo caminho, a experiência macabra influenciou políticas voltadas para deficientes, como o Sistema de Proteção e Advocacia da Lei de Assistência e Deficiências e a Lei de Educação para Todas as Pessoas com Deficiência.

Camas com alguns pacientes / Crédito: Minnesota Historical Society

Atualmente, os prédios do lugar macabro fazem parte da Universidade de Staten Island. Está lá para lembrar uma época em que a sociedade americana falhou com as pessoas com alguma deficiência tratando-as como se fossem tudo, menos humanos.


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