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Matérias / Personagem

Ona Judge, a corajosa escravizada que enfureceu George Washington

A história de Judge foi amplamente contada na obra Never Caught, da renomada escritora Erica Armstrong Dunbar

Victória Gearini Publicado em 12/12/2020, às 09h00

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Ilustração de Ona Judge, escrava de George Washington - Divulgação / Youtube / Hindsight History
Ilustração de Ona Judge, escrava de George Washington - Divulgação / Youtube / Hindsight History

Em 1796, na Filadélfia, a escrava de George Washington, Ona Judge, fugiu da residência presidencial, em busca de liberdade. Na época, o então presidente anunciou a fuga nos jornais e chegou a oferecer recompensa pela “devolução” da escravizada. 

Segundo registros históricos encontrados em Mount Vernon, Ona Maria Judge teria nascido por volta de 1773. Filha de uma escravizada com um homem branco que trabalhava como servo contratado, a mulher passou a trabalhar na mansão quando tinha apenas nove anos de idade. 

De acordo com os documentos levantados pela professora de História e Estudos Negros na Universidade de Delaware, Erica Armstrong Dunbar, assim que George Washingtontornou-se presidente dos Estado Unidos, Ona Judge teria acompanhado a família para Nova York e, posteriormente, Filadélfia — local que abrigava grande concentração de negros livres.

 George Washington, presidente dos Estados Unidos / Crédito: Wikimedia Commons

Em sua obra intitulada Never Caught, Erica Armstrong conta como a família Washington conseguiu driblar a lei de abolição gradual de 1780 na Pensilvânia. Segundo dados levantados pela especialista, os escravocratas faziam uma espécie de “rodízio” dos escravos na propriedade a cada seis meses. 

Após descobrir que seria entregue a Eliza, neta de Martha Washington, Ona Judge obteve ajuda de negros livres para fugir. Durante um jantar presidencial, a escrava escapou da mansão e, em seguida, foi colocada em um navio para Portsmouth, New Hampshire. Em seu novo lar, a mulher conheceu um rapaz, com quem se casou e teve três filhos.

Quase captura

Ao descobrir que a moça estava em Portsmouth, Washington inventou que ela teria sido "atraída e ludibriada por um francês". Desprezando os protocolos da lei — que ele mesmo tinha aprovado — o presidente mandou um oficial federal atrás da mulher, com o intuito de capturá-la. 

Anúncio no The Pennsylvania Gazette / Crédito: Wikimedia Commons

Na época, o líder estadunidense declarou que Ona "foi embora sem nenhum motivo", e descreveu sua atitude como "ingratidão". Judgea concordou em voltar para a mansão, apenas se fosse libertada caso Martha viesse a óbito. Afinal, era a segurança que teria liberdade em algum momento.

Em contrapartida,  George Washington considerou a exigência "inadmissível". Além disso, o presidente declarou que dar a chance de um escravo decidir os rumos de sua vida seria o mesmo que "valorizar a falta de lealdade", segundo suas palavras. 

Em uma segunda tentativa, o político enviou outro oficial para capturá-la, no entanto, a mulher foi avisada com antecedência sobre o plano, desaparecendo em agosto de 1799.

Após a morte de Washington, quatro meses depois, seu testamento libertou todos os 123 escravos que possuía, entretanto, Ona Judge permaneceu como propriedade legal de Martha.

Em geral, o trabalho de Erica mostra a visão errônea que a sociedade tem deste presidente. Segundo a autora, a ideia de que os escravos que trabalhavam na casa grande tinham "privilégios" é totalmente equivocada. A autora deixa claro em seu livro, ainda, que George Washington está longe de ser um herói da história.


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