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Matérias / O Voo Sequestrado

O Voo Sequestrado: Veja a história real por trás do novo filme da Netflix

Revoltados com a situação política da Nigéria, em 1993, quatro adolescentes sequestraram um voo com membros do alto escalão do governo

Fabio Previdelli
por Fabio Previdelli
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Publicado em 24/10/2024, às 21h35 - Atualizado às 21h38

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Cena de 'O Voo Sequestrado' - Divulgação/Netflix
Cena de 'O Voo Sequestrado' - Divulgação/Netflix

Em junho de 1993, a Nigéria passou por sua terceira eleição presidencial desde sua independência do Reino Unido, em 1960. O pleito foi o primeiro realizado após o Golpe de Estado de 1983, marcando o fim da chamada Segunda República. 

As eleições daquele ano marcariam o processo de transição para o governo civil. Até então, o país era liderado pelo presidente militar Ibrahim Babangida. O embate aconteceu entre o candidato da situação Bashir Tofa, da Convenção Nacional Republicana (NRC), e o oposicionista Moshood Abiola, do Partido Social-Democrata (SDP).

Abiola recebeu 58% dos votos, mas o resultado não foi divulgado pela Comissão Nacional Eleitoral (NEC). O NEC foi ordenado a não oficializar o resultado e também a anular o pleito. 

Como resultado, uma onda de protestos tomou a Nigéria, transformando o país em uma verdadeira panela de pressão. Para mostrar sua revolta, um grupo de jovens chegou a sequestrar um avião. O episódio, agora, inspirou o filme 'O Voo Sequestrado', que estreia no catálogo da Netflix nesta sexta-feira, 25. Conheça!

Plano em ação

Em 25 de outubro de 1993, uma aeronave da Nigeria Airways deixou a cidade de Lagos com destino à capital, Abuja. No entanto, o voo acabou desviado para Niamey, na República do Níger. O motivo? Quatro adolescentes nigerianos sequestraram o avião.

O grupo estava irritado com a anulação ilegal e injusta das eleições e sequestrou a aeronave como forma de protesto. Na ocasião, Richard Ogunderu, Kabir Adenuga, Benneth Oluwadaisi e Kenny Rasaq-Lawal embarcaram no voo e esperaram até que o piloto permitisse a retirada dos cintos de segurança para entrarem em ação. 

Conforme repercutido pelo International Centre for Investigate Reporting (ICIR), da Nigéria, o voo transportava alguns empresários e políticos do alto escalão. Os passageiros ficaram perplexos quando ouviram uma voz diferente do sistema de comunicação do piloto. 

Senhoras e senhores, este avião foi tomado pelo Movimento para o Avanço da Democracia", informaram os rebeldes. "Fiquem calmos, não faremos mal a vocês. Vocês serão informados sobre onde o avião os pousará".

Ogunderu, que liderava o grupo, relatou que as aeromoças ficaram em estado de choque, tomadas pelo medo. "Se vocês se moverem, estarão mortas", ameaçou, ainda conforme o ICIR. 

Cena de 'O Voo Sequestrado' - Netflix

"Queríamos mudança. Nossa ação confirmou que quando um sistema é desumano, ele pode produzir o extremo em todos nós", relatou Ogunderu durante entrevista ao The Nation em 2009.

Um sistema que não se importa, um sistema que não ouve nossos gritos e nossas aflições, um sistema que quer nos exterminar não merece um dia de existência", se rebelou. 

O início do sequestro

Com o avião já no ar, Ogunderu sinalizou com as mãos aos colegas o momento certo de agir. "Entrei na cabine e agarrei o manche, e então os outros me seguiram. Dois  permaneceram no avião para intimidar os passageiros. Nós assumimos o controle do avião e pedimos ao piloto para ir para outro país".

Inicialmente, o plano dos rebeldes era desviar o voo até a Alemanha, mas acabou se tornando inviável após ficarem sem combustível. Foi, então, que eles decidiram pousar em Niamey. 

Quando o avião pousou, a aeronave foi cercada por agentes de segurança armados no aeroporto. O grupo exigia que as eleições fossem validadas e Abiola empossado, só assim eles liberariam os passageiros. As demandas deveriam ser atendidas em até 72 horas, caso contrário, o avião seria incendiado com todos em seu interior. 

Cena de O Voo Sequestrado - Netflix

Com o passar do tempo, 34 passageiros acabaram sendo libertos, mas outros 159 permaneceram na aeronave em meio às negociações. As autoridades se demonstraram pouco seguras para invadir o avião, visto que não sabiam o quão preparados os rebeldes eram ou se eles possuíam explosivos para explodir o local. 

Fim da linha 

O grupo permaneceu na aeronave por alguns dias, até que a mesma foi invadida por agentes durante a madrugada. "Eles pensaram que estávamos dormindo, então vieram na calada da noite e dispararam vários tiros. Eles bombardearam o avião. Acho que uma pessoa morreu", relatou Ogunderu, segundo o ICIR.

Richard Ogunderu, Kabir Adenuga, Benneth Oluwadaisi e Kenny Rasaq-Lawal acabaram detidos e algemados. Eles foram levados até uma prisão em uma comunidade local, que dispunha de uma estrutura questionável afetada pelas altas temperaturas nas celas.

"Estávamos mal alimentados. Não sabíamos falar hausa [uma língua da África Ocidental] nem francês e ninguém falava inglês conosco", recordou Ogunderu. "Fomos incitados pela necessidade de concretizar o 12 de junho por todos os meios possíveis. Queríamos demonstrar uma coragem rara de que poderíamos salvar a Nigéria das amarras da repressão trazendo uma sensação de coragem aos nigerianos".

Ogunderu, porém, acabou admitindo que, embora motivados pela busca da liberdade, ele e seu grupo "reagiram de maneira extrema". Como consequência, passaram nove anos e quatro meses presos — sem a oportunidade de receber visitas de parentes. 

Cena de O Voo Sequestrado - Netflix

De acordo Ogunderu, porém, o único motivo para lamentar é que o "mal contra o qual os nigerianos lutaram vários anos atrás continua a prejudicar a imagem do país".

É lamentável que nossos líderes continuem a nos oprimir, o pior é que não podemos nem escolher nossos representantes diante de eleições fraudulentas e da postura ousada dos perpetradores do crime", finalizou.

Como resultado, Babangida acabou obrigado a renunciar à presidência e um frágil governo interino, formado por civis, assumiu o controle do país. Mas isso só, na prática, visto que os militares continuaram controlando a administração federal. No fim, um novo golpe militar eclodiu e Sani Abacha foi nomeado presidente da Nigéria até 1999.

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