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Matérias / Crime

O surpreendente aplicativo espião que resultou na prisão de mais de 800 pessoas

Entenda como autoridades de 16 países conseguiram ter acesso às conversas de milhares de pessoas, incluindo criminosos

Giovanna Gomes, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 11/06/2021, às 09h00

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Imagem ilustrativa de cela - Imagem de Ichigo121212 por Pixabay
Imagem ilustrativa de cela - Imagem de Ichigo121212 por Pixabay

Mais de 800 pessoas foram presas recentemente em uma megaoperação internacional contra o crime organizado, a qual envolveu autoridades de dezesseis paízes, entre eles a Austrália, EUA e Nova Zelândia.

O mais surpreendente é que as prisões somente foram possíveis graças a um esquema de distribuição de celulares que continham um sistema espião.

Operação bem-sucedida

Os agentes infiltraram aparelhos, apeliados de Anom, entre os criminosos, de modo que conseguiram ter acesso às mensagens por eles trocadas.

Assim, foram realizadas "mais de 800 detenções", além de que "mais de 700 lugares com operações de busca e mais de oito toneladas de cocaína foram apreendidas", conforme um dos comandantes da Europol, em uma entrevista coletiva.

Nygel Ryan, comissário-assistente da Polícia Federal Australiana

Os agentes confirmaram que 224 pessoas foram presas só na Austrália e outras 155 somente na Suécia. A Finlândia anunciou a prisão de 100, enquanto a Alemanha, 70. Na Holanda foram 49, e na Nova Zelândia, 35.

Os demais criminosos foram apreendidos nos demais países que participaram da operação, denominada Ironside, ou Escudo de Tróia, como ficou mais conhecida.

Segundo a Europol, a operação ainda apreendeu uma imensa quantidade de drogas: 2 toneladas de maconha e duas de anfetamina, além de 250 armas de fogo e 55 carros de luxo. Também foram encontrados mais de 48 milhões de dólares em diferentes moedas e criptomoedas.

Conforme o diretor adjunto do FBI, Calvin Shivers, foi possível salvar "mais de 100 vidas" ameaçadas ao longo da operação.

Da esquerda para a direita: Scott Morrison, Anthony Russo e Reece Kershaw / Crédito: Getty Images

Usando a tecnologia

Os 11.800 dispositivos distribuídos pelos agentes possuíam um sistema chamado Anon, que foi o que permitiu aos policiais o acesso a mensagens trocadas pelos bandidos. Outros dois programas, o "Phantom Secure" e o "Sky Global", também foram utilizados na operação.

Para que esses celulares chegassem aos alvos das polícias, foram utilizadas pessoas que tinham grande influência no mundo do crime.

"Os aparelhos circulavam organicamente e se tornaram populares entre os criminosos, que confiavam na legitimidade do aplicativo porque figuras reconhecidas do crime organizado os defendiam", disse a polícia australiana em um comunicado.

Uma pessoa segura um celular / Crédito: Imagem de Pexels por Pixabay

Esses aparelhos, os quais os criminosos acreditavam ser seguros, não tinham recursos como GPS, e-mail ou serviço de ligação e poderiam ser adquiridos apenas por meio da compra no mercado clandestino. Após comprar esses aparelhos, era preciso que um código fosse enviado por outro usuário do Anom.

Portanto, "os criminosos tinham que conhecer outro bandido para conseguir um aparelho", prosseguiu a polícia. Assim, conforme disse o comandante da força de segurança, Reece Kershaw os criminosos influentes "colocaram a polícia federal australiana no bolso" de centenas de supostos bandidos." 

Scott Morrison, o primeiro-ministro australiano declarou que a operação "desferiu um duro golpe no crime organizado, não apenas no país, mas irá repercutir no crime organizado em todo o mundo".