Estudo recente buscou entender qual a explicação por trás dos animais de um chifre representados em cavernas sul-africanas
Em cavernas da África do Sul, cientistas já encontraram vários exemplos de curiosos desenhos representando criaturas de um chifre só — que lembram a figura mitológica dos "unicórnios", presente em nossa cultura até os dias de hoje.
David Mendel Witelson, porém, um pesquisador de arte rupestre sul-africana, afirmou em um estudo publicado pelo jornal da Universidade de Cambridge no último mês de maio que essas gravuras foram muitas vezes interpretadas erroneamente pela sociedade ocidental. Entenda!
Uma das primeiras — e mais fantasiosas — leituras feitas a partir desses desenhos seria de que unicórnios de fato existiam na África do Sul, um rumor que é relatado por Sir John Barrow (1764-1848) em seus diários de viagem, tendo sido contado a ele por colonos locais.
Durante sua passagem pela região, o aventureiro britânico chegou a procurar por vestígios das criaturas mágicas pela "selva inexplorada" do país, mas não teve sucesso, conforme contou Witelson no The Conversation.
Uma perspectiva mais sensata, por outro lado, é de que esses exemplos de arte rupestre são simplesmente representações de animais de dois chifres através de uma vista lateral. Quando se visualiza um antílope de lado, por exemplo, pode acontecer de apenas um chifre estar visível, pois eles se encontram sobrepostos. Ainda de acordo com Witelson, porém, essa interpretação dos desenhos também não é satisfatória.
Para de fato entender o que os autores das pinturas com animais de um chifre estavam tentando representar, é importante primeiro aprender quais eram as referências culturais deles. Para as sociedades europeias e celtas, unicórnios podem ser uma figura mitológica recorrente, mas as tribos indígenas da África do Sul tinham sistemas de crenças diferentes.
Os San, por exemplo, formado por caçadores-coletores, ainda prosperam no território sul-africano hoje, sendo detentores de uma das culturas mais antigas a ainda serem preservadas na nação, acredita nos chamados "animais da chuva", que integram não apenas seus mitos e rituais, mas também sua arte, justamente.
De acordo com suas crenças, é possível trazer a chuva para um lugar através da captura e do sacrifício desses seres por meio de cerimônias específicas (geralmente, realizadas por líderes da tribo especializados na prática).
Em algumas histórias, conforme aponta Witelson, os animais da chuva, embora possuam muitas formas — podem ser caprinos, serpentes, peixes e outros — são descritos como detentores de um únicochifre.
Os animais de um chifre só retratados na arte rupestre [da África do Sul] não são meros rinocerontes ou antílopes, nem são as criaturas do mito europeu. As crenças indígenas nos ajudam a explicar que a estranha semelhança entre os unicórnios europeus e os "unicórnios" sul-africanos foi puro acaso. A mistura de crenças estrangeiras com as locais na África do Sul colonial escondeu a criatura indígena independente [de animais da chuva]", conclui o pesquisador no site The Conversation.