Entenda como as cidades e ecossistemas mudariam drasticamente sem a presença humana e o impacto disso na biodiversidade
Localizada nas profundezas da floresta tropical da Guatemala, Tikal é uma das mais icônicas heranças da civilização Maia, datando de aproximadamente 2.000 anos. Durante uma expedição na região, o autor e jornalista Alan Weisman fez uma descoberta intrigante:
"Ao caminhar por essa densa floresta, você está percorrendo colinas e os arqueólogos explicam que, na verdade, você está andando sobre pirâmides e cidades que ainda não foram escavadas", repercute o LiveScience.
Esse cenário revela como o que conhecemos sobre locais históricos como Tikal é fruto de grandes esforços humanos para desenterrar e restaurar suas ruínas. No entanto, inumeráveis outros vestígios permanecem ocultos sob a terra e a vegetação.
Weisman observou: "É impressionante como a natureza pode rapidamente nos enterrar." Essa reflexão leva a questionar como seria nosso planeta se a humanidade simplesmente deixasse de existir.
Essa hipótese tornou-se especialmente relevante no recente contexto da pandemia global de COVID-19, que forçou as pessoas a se recolherem, permitindo que a vida selvagem retornasse a ambientes urbanos mais tranquilos.
O autor de "The World Without Us" (Thomas Dunne Books, 2007) dedicou anos entrevistando especialistas para investigar o que aconteceria em nosso planeta — nas cidades, indústrias e ecossistemas — caso os humanos desaparecessem.
Existem várias teorias sobre possíveis causas para a extinção da humanidade, sendo improvável que essa ocorrência seja instantânea. Contudo, imaginar uma erradicação súbita da espécie humana — possivelmente causada por um vírus ainda desconhecido — é uma forma poderosa de explorar as consequências desse evento hipotético.
Em sua pesquisa, Weisman destacou que as cidades seriam os locais onde as mudanças mais drásticas ocorreriam rapidamente devido à falta de manutenção humana. Sem pessoas para operar bombas que desviam águas pluviais e controlam o lençol freático, sistemas de metrô em metrópoles como Londres e Nova York inundariam em poucas horas.
A ausência de supervisão humana em refinarias de petróleo e usinas nucleares resultaria em falhas catastróficas, podendo causar incêndios devastadores e explosões nucleares. "Se nós desaparecermos subitamente, haverá uma liberação massiva de radiação. É difícil prever as consequências disso", afirmou Weisman.
Além disso, deixaríamos para trás enormes montanhas de resíduos, predominantemente plásticos, que persistiriam por milênios e afetariam a vida selvagem de maneiras que apenas começamos a entender.
Enquanto isso, os resíduos industriais se infiltrariam no solo e seriam gradualmente decompostos por microrganismos e plantas ao longo das décadas. Contudo, poluentes orgânicos persistentes levariam muito mais tempo para serem eliminados.
De acordo com Weisman: "Alguns desses compostos podem durar até o fim dos tempos na Terra." O impacto cumulativo da poluição resultante da nossa ausência teria efeitos prejudiciais nos habitats circundantes.
À medida que as estruturas urbanas se deterioram devido à corrosão causada pela água subterrânea, ruas inteiras poderiam desmoronar, transformando-se em rios urbanos. Nos invernos subsequentes, sem a intervenção humana para descongelar as superfícies, as calçadas se quebrariam, criando nichos para sementes que seriam trazidas pelo vento ou excretadas por aves. Com o tempo, essas sementes poderiam crescer em árvores que continuariam a desmantelar pavimentos e estradas.
A natureza tomaria conta rapidamente do espaço urbano anteriormente dominado pelo concreto. A vegetação emergiria em forma de gramados e arbustos densos; esse acúmulo de material orgânico seco poderia alimentar incêndios florestais provocados por raios — levando à devastação de áreas urbanas. Com o passar dos séculos, os edifícios sofreriam danos contínuos devido à erosão e ao fogo; as construções mais frágeis sucumbiriam primeiro.
No entanto, estruturas feitas de materiais naturais como pedra teriam uma longevidade maior. Embora eventualmente também se desgastassem com o tempo, os icônicos horizontes urbanos que conhecemos hoje deixariam de existir.
Fora dos limites urbanos, vastas áreas agrícolas cobririam metade da terra habitável do planeta. Com o desaparecimento humano, insetos prosperariam novamente ao cessar a aplicação de pesticidas e outros produtos químicos nocivos. Essa recuperação desencadearia um efeito cascata positivo nas comunidades vegetais e na fauna local.
A biodiversidade global aumentaria consideravelmente; estudos demonstraram que no passado remoto o mundo era muito mais rico em megafauna antes da chegada humana. A migração humana pelas diversas regiões do planeta coincidiu com taxas crescentes de extinção animal.
Sem a presença humana interferindo nos habitats naturais e predando essas espécies, seria plausível imaginar um mundo muito mais diverso em megafauna atualmente — lugares como o centro dos Estados Unidos ou partes da América do Sul poderiam ser repletos dessas criaturas majestosas.
Porém, mesmo se os humanos desaparecessem completamente do cenário atual, levaria milhões de anos para que a biodiversidade alcançasse níveis semelhantes aos anteriores às extinções causadas pela atividade humana.
Ainda assim, embora exista esperança na recuperação da natureza após um eventual desaparecimento humano, os efeitos das mudanças climáticas continuam sendo uma preocupação significativa. Weisman aponta que as previsões sobre as consequências futuras são complexas; eventos como explosões em instalações industriais poderiam liberar grandes quantidades de dióxido de carbono na atmosfera.
A absorção desse gás pelos oceanos tem seus limites; um acúmulo excessivo poderia acidificar as águas marinhas, prejudicando inúmeras espécies oceânicas. Níveis elevados de CO2 na atmosfera podem levar milhares de anos para serem totalmente removidos — algumas estimativas sugerem períodos superiores a 100 mil anos.
Portanto, mesmo na eventualidade da ausência humana no planeta, é provável que os efeitos das mudanças climáticas perdurem por um longo tempo.
Contudo, há espaço para otimismo; Weisman menciona eventos passados na história geológica da Terra onde a vida encontrou formas de se adaptar às condições extremas do ambiente. "A natureza sempre encontra um caminho", conclui ele.
Ponderar sobre um futuro sem seres humanos pode oferecer consolo ao perceber que nosso planeta ainda prosperaria sem nós. Ao mesmo tempo, essa reflexão pode instigar uma maior conscientização sobre nossas ações atuais e suas consequências.
A visão proposta por Weisman através do seu trabalho serve como um convite à reflexão: é possível contemplar um mundo restaurado onde a natureza recupera seu espaço?
O verdadeiro ponto é mostrar quão lindamente a natureza pode voltar e curar muitas das cicatrizes que deixamos no planeta", aponta.
Portanto, essa perspectiva não só oferece esperança quanto nos convida a considerar como podemos coexistir harmonicamente com o meio ambiente no futuro.
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