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Matérias / Personagem

O inferno de András Toma, o combatente húngaro que passou 50 anos num hospital psiquiátrico

Sem documentos e lidando com diversos obstáculos, o soldado da Segunda Guerra foi feito de prisioneiro por tropas soviéticas enquanto sua família não tinha respostas

Paola Churchill Publicado em 27/05/2020, às 11h44

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Retrato de András Toma quando ele foi reencontrado - Wikimedia Commons
Retrato de András Toma quando ele foi reencontrado - Wikimedia Commons

A Segunda Guerra Mundial foi um período sombrio para a história da humanidade, não tem como negar, mas, em setembro de 1945, ela teve um fim para a maioria das pessoas. Contudo, alguns combatentes não conseguiram voltar para casa. Um caso específico chama atenção: a saga do soldado húngaro András Tomas.

András Toma tinha apenas 19 anos quando viveu os horrores desse período. Ele estava lutando na Polônia quando uma ofensiva soviética fez dele e mais 147 mil combatentes do Eixo como prisioneiros, em janeiro de 1945.

Retrato de András Toma durante a Segunda Guerra Mundial/Crédito: Wikimedia Commons

O homem foi transferido para um campo de prisioneiros de guerra em Boksitogorsk, na Rússia, e ficou lá até o fim da guerra em setembro do mesmo ano. Poderia ser mais uma história de um combatente repatriado da prisão, no entanto, essa tem uma grande peculiaridade: o homem ficou por mais de meio século sendo feito de prisioneiro sem conseguir se comunicar com ninguém.

Silêncio

Pouco tempo depois do fim da guerra, Toma ficou extremamente doente e foi levado para um hospital militar distante, localizado na cidade de Bistrjag. Ele ficou dois anos no local até ser transferido para a instituição psiquiátrica em Kotelnich. Naquele momento, não imaginava que aquela seria sua casa pelos próximos 53 anos.

Os problemas começaram quando todos os arquivos de Toma foram perdidos e ele não tinha como explicar quem era: não falava nada em russo. Além disso, os funcionários do hospital psiquiátrico não faziam nenhum esforço para entender e saber quem era aquele homem.  

Soldados húngaros durante a Segunda Guerra Mundial/Crédito: Wikimedia Commons 

O governo de seu país tentava descobrir seu paradeiro e trazê-lo de volta a Hungria, mas com a perda dos documentos e com a grande demanda de soldados que queriam ser repatriados, Toma foi esquecido e declarado morto em 1954.

No entanto, o soldado estava vivo no sanatório soviético. Durante todo o tempo que passou lá, a equipe e os pacientes o consideravam excêntrico: ele sempre estava muito quieto ou achavam que ele tinha inventado sua própria língua — o dialeto húngaro era desconhecido na pequena cidade russa.

Achado no meio do nada

András já havia desistido de tentar voltar para casa e tinha aceitado que passaria os dias finais naquele hospital. Tudo mudou em 11 de agosto de 2000, quando o linguista eslovaco Karol Moravčík — que estava de passagem por Kotelnich — reconheceu o dialeto falado por Toma e descobriu a sua história.

Com 75 anos, seus familiares não conseguiam acreditar que András não tinha morrido em combate na guerra. Quando um exame de DNA realmente comprovou quem ele era, seus irmãos Janos e Anna, o levaram para casa, em Nyiregyhaza, no leste da Hungria.

Chegando em casa, ele foi recebido como um herói em sua cidade natal e o governo húngaro deu medalhas por todos os esforços de András e ainda deu um polpudo salário de soldado por todos os 53 anos que ele esteve ausente.

Passou o resto da vida ao lado de sua irmã Anna, na fazenda da família. Foram dias tranquilos ao lado de pessoas que o amavam, diferente do inferno que ele havia passado nos últimos 53 anos. Toma morreu aos 79 anos, quatro anos depois de ter voltado para casa, de causas naturais.


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