Na última quarta-feira, 2, a estudante de enfermagem almoçava sozinha em um shopping de Niterói. Em menos de cinco minutos, ela viu-se nas mãos impiedosas de um colega de classe
Entre janeiro e abril de 2021, o Instituto de Segurança Pública (ISP) já registrou 30 diferentes casos de feminicídio no Rio de Janeiro. Segundo a instituição, o índice é um recorde, frente aos dados recolhidos desde o início da pesquisa, em 2017.
O expressivo aumento desses crimes no estado também é confirmado pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Segundo o órgão, dados recentes mostram que, nos últimos quatro anos, a taxa de feminicídios na região cresceu 127%, ou seja, mais que dobrou.
A cada dia, no entanto, mais mulheres estão suscetíveis ao crime que, na Constituição, é considerado feminicídio quando envolve “violência doméstica e familiar” e “menosprezo ou discriminação à condição de mulher” (Lei Nº 13.104, de 9 março de 2015).
Foi o que aconteceu com a jovem Vitórya Melissa, que completou 22 anos no último domingo, 30, mas não conseguiu aproveitar os novos ares. Isso porque, três dias depois, na quarta-feira, 02, ela foi assassinada a sangue frio no meio de um shopping.
Já fazia três anos que Vitórya Melissa trabalhava em uma cafeteria em um shopping no Centro de Niterói, no Rio de Janeiro. Sempre muito sorridente, como narraram seus colegas, a garota tinha um objetivo por trás dos aventais: ela queria ser enfermeira.
"Era o sonho dela concluir o curso de enfermagem”, narrou seu tio, Cláudio Fonseca, em entrevista ao G1. “O projeto dela era concluir esse curso e concluir as outras graduações fora do país.” Mas todos os planos foram arrancados pelo fio de uma faca.
Entre 12h e 13h da quarta-feira, 02, Vitórya Melissa sentou-se sozinha em uma mesa da praça de alimentação do mesmo shopping onde trabalhava. Em um dos poucos momentos de descanso de sua rotina, ela aproveitava a própria companhia.
De repente, às 13h03, um colega de classe da garota, Matheus dos Santos da Silva, de 21 anos, chega na praça, com uma bolsa à tiracolo.
A conversa entre os dois dura menos de cinco minutos, segundo mostram as câmeras de segurança do shopping — que estava diretamente apontada para a cena. De acordo com testemunhas citadas pelo Correio Braziliense, é nesse momento que os dois começam a discutir e Vitórya se exalta, gritando “não!” repetidas vezes.
Na mesma praça de alimentação, a estudante de pedagogia Bruna Beatriz fazia compras em uma farmácia quando ouviu um tumulto se formando. “Um monte de gente se empurrando e correndo, pensei até que estava pegando fogo o shopping”, narrou a jovem, em entrevista ao G1. Infelizmente, os gritos anunciavam a morte de Vitórya.
Pouco depois de discutir com seu colega de classe, com quem ela havia falado mais cedo para falar sobre um material da faculdade, segundo o Correio Braziliense, a garota tentou se levantar da mesa, mas sentiu uma pontada excruciante em suas costas.
Ao se virar, Vitórya foi esfaqueada por Matheus mais uma vez, por uma lâmina que o jovem havia comprado cerca de 30 minutos antes, naquele mesmo shopping. O pânico se instaurou na praça de alimentação e as pessoas começaram a correr com medo.
Imagens de segurança do estabelecimento mostram o exato momento em que Matheus se debruça sobre o corpo ensanguentado da garota e continua desferindo golpes impiedosos em seu peito. Em seguida, ele é detido por seguranças do shopping.
Às 13h12, os bombeiros são acionados e encaminham Vitórya para o Hospital Estadual Azevedo Lima (Heal). Com múltiplas estocadas espalhadas pelo seu tronco, contudo, a garota cheia de sonhos não resiste aos ferimento e chega já sem vida no local.
"O que escrever? Como se tira a vida de uma pessoa assim?”, questionou o perfil da cafeteria onde a garota trabalhava. “Sempre sorridente (ela tinha inúmeros motivos para não sorrir). Sempre meiga, educada, estudiosa, atenciosa, inteligente, cativante. A equipe está despedaçada, desesperada, traumatizada com tanta crueldade.”
Supostamente apaixonado pela vítima, que não sentia a mesma coisa, segundo amigos da própria Vitórya, Matheus Santos da Silva foi preso em flagrante e levado até a 76ªDP da região. Segundo a polícia, ele deve responder pelo crime de feminicídio.
Impedida de seguir seus sonhos, Vitórya foi enterrada no dia seguinte, no Cemitério do Maruí, em Niterói.