A socialite deu a volta por cima após a Revolução Russa matar o pai dela, que era tio do último czar, Nicolau II
Quando Natalia Pavlovna Paley tinha apenas 8 anos de idade, ela viveu uma vida luxuosa em uma mansão em Paris, na França, com uma equipe de dezesseis empregadas, jardineiros, cozinheiros e tutores. Seu pai era Paul Alexandrovich, filho de Alexandre II, e tio do último czar da Rússia, Nicolau II. Ele era casado com a aristocrata Olga Valeriovna Karnovich.
A menina, que mais tarde ganhou fama como Natalie Paley, passou por uma enorme mudança em maio de 1914. Na ocasião, sua família se mudou para a Rússia, onde ela conheceu vários parentes que nunca tinha visto antes, incluindo sua avó materna, suas meia-irmãs e seu meio-irmão.
Ela fez até amizade com suas primas, as icônicas grã-duquesas Romanov: Olga, Tatiana, Maria e Anastasia — todas filhas de Nicolau II. A garotinha, assim como as parentes, usufruiu de uma infância bastante sofisticada e o número de empregados aumentou para 64, no palácio em que Natalia passou a viver na Rússia. Mas essa era dourada teria um fim trágico: a guerra.
Mesmo com problemas de saúde, o pai de Natalia, o grão-duque Paul, ignorou o conselho do médico. Ele partiu para comandar um regimento em 1916. Em março de 1917, após derrotas desastrosas no campo de batalha, o Czar Nicolau II foi deposto.
Em novembro, os bolcheviques de Lenin tomaram o poder e se instalou uma ditadura. No meio do caos político, a família de Natalia permaneceu em sua rica propriedade. Isso, pois foram obrigados.
Quando o Czar e sua família foi deportado para a Sibéria, o grão-duque foi mantido prisioneiro com a esposa e os filhos em sua própria casa. Há registros até de que soldados bêbados entravam no imóvel e desrespeitavam a família.
Natalia, sua mãe Olga e irmã Irina, tiveram até que cozinhar e limpar para os oficiais, sofrendo uma série de insultos. Além disso, embora a garota nunca tenha confessado publicamente, seus amigos e familiares disseram que ela foi abusada sexualmente pelos soldados, enquanto era presa dentro de casa.
Em janeiro de 1918, o lar da família virou um museu, sendo que a mãe teve que servir de guia para exibir os tesouros antigos que estavam no palácio. Tudo piorou no mês de julho, quando Nicolau II, a esposa e os cinco filhos foram exterminados.
Um tempo depois, no dia 30, o pai de Natalia e o irmão, Vladimir, foram presos. A mãe, desesperada com toda a situação, começou a elaborar um plano de fuga para as filhas Natalia e Irina.
Era uma noite fria de dezembro de 1918, Natalia partiu com a irmã em um esquema organizado pela mãe. As jovens viajaram de bonde até a estação de trem de Ochta. Em vez de irem em assentos de luxo, foram dentro do vagão de gado, onde ficaram por quatro horas.
As duas saltaram na neve perto da fronteira com a Finlândia, para onde seguiram a pé. Por lá, ficaram em uma casa de caridade, torcendo para que os pais as alcançassem com vida. O grão-duque nunca as encontrou, pois foi morto em janeiro de 1919. Já a mãe, Olga, chegou com sucesso até a Finlândia, onde cuidou das filhas.
Em setembro daquele ano, Olga descobriu que seu filho, Vladimir, também tinha sido assassinado. A morte também podia ter sido o destino delas, caso a fuga não tivesse dado certo. Mãe e filhas ganharam um recomeço.
A condessa Olga e as meninas se mudaram para a Suécia, onde permaneceram até a primavera de 1920. Nessa altura, tiveram que vender a antiga casa que possuíam na França e compraram outra em um dos bairros de classe alta de Paris.
Um tempo depois, Irina se casou com o príncipe Theodore Alexandrovitch, um dos sobrinhos do falecido Czar Nicolau II, em 31 de maio de 1923. Por outro lado, Natalia estava ainda solteira, em procura apenas de um emprego.
A oportunidade veio na casa de moda de Lucien Lelong, onde a jovem foi contratada como modelo. Ela acabou se casando com o próprio Lelong no dia 9 de agosto de 1927. Inserida nesse meio glamouroso, Natalia ganhou fama e reconhecimento no universo da moda e apareceu em capas da Vogue e da Harper Baazar nos anos 20 e 30.
Em novembro de 1929, tudo foi de mal a pior: faleceu Olga, a mãe da socialite. Além disso, após desconfiar que o marido Lucien Lelong estava a traindo com outra mulher, Natalie teve um caso com o dançarino Serge Lifar, que conheceu em 1930, em Veneza.
Dois anos depois, ela conheceu outro homem, o escritor Jean Cocteau, com quem também teve um affair. Entre vários motivos, o uso do ópio por parte de Cocteau teria conturbado a relação dos dois, que romperam no outono de 1932.
Após seu último relacionamento extraconjugal, Natalie Paley saiu de casa e abandonou o marido. Comprou um lindo apartamento na Esplanade des Invalides. Em 1933, começou a atuar no cinema. Estreou no ano seguinte no melodrama Le Prince Jean, dirigido por Jean de Marguenat.
A estrela também atuou como a baronesa Genevieve Cassini no musical L’Homme des Folies Bergeres, lançado em 1935. Seu último filme foi o drama Les Hommes Nouveaux, lançado no ano seguinte.
Após o fim de sua breve carreira como atriz, em 24 de maio de 1937, Natalie finalmente se separou legalmente de Lucien Lelong. Pouco depois, anunciou à imprensa que se casaria com John Chapman Wilson. O matrimônio ocorreu e os dois permaneceram juntos até a morte de John, que faleceu em novembro de 1961.
Os últimos anos de vida de Natalie Paley foram bem reclusos. Uma viúva atormentada pela morte do marido, ela permanecia viva enquanto vários de seus amigos já tinham morrido. Passou seus últimos dias sofrendo e cega. Até que foi vítima de um acidente trágico em 21 de dezembro de 1981.
A mulher caiu em uma banheira e partiu o fêmur. A operação de emergência para restaurar os danos fracassou. O estado de saúde da parente dos Romanov piorou e ela faleceu aos 76 anos, em 27 de dezembro de 1981. Morria naquele momento uma sobrevivente da Revolução Russa.