Para esclarecer dúvidas sobre o tema, o site Aventuras na História conversou com o médico reumatologista do Hospital Albert Einstein, Fabio Jennings. Confira!
Desde março de 2020, em decorrência do novo coronavírus, diversos termos surgiram com força na mídia: lockdown, pandemia, entre outros. O placebo é uma dessas palavras. O termo está sendo usada com frequência atualmente, enquanto os institutos de pesquisa lutaram para produzir uma vacina eficaz contra o vírus.
Em outubro do ano passado, um médico brasileiro de 28 anos que participou dos testes da vacina de Oxford, faleceu. Na época, muitas dúvidas surgiram sobre se o voluntário havia ou não recebido a vacina.
De acordo com informações apuradas pela rede Globo na época, a vítima que morreu em consequência da Covid-19, recebeu o placebo durante os testes. Desde então, mais questões foram surgindo sobre o tema. E como consequência, muitas notícias falsas.
Para esclarecer do que se trata e qual a finalidade desse procedimento, o site Aventuras na História conversou com exclusividade com Fabio Jennings, Assistente doutor da Disciplina de Reumatologia da Unifesp, coordenador da Comissão de Coluna Vertebral da Sociedade Brasileira de Reumatologia e médico reumatologista do Hospital Albert Einstein. Fabio também é um dos profissionais que participou dos testes iniciais da vacina de Oxford no último ano.
Desvendando o placebo
Com a evolução da medicina, os especialistas encontraram no placebo um aliado quando o assunto são os testes clínicos. O Dr.Jennings explica que esse procedimento é usado para comparar e testar a eficácia de tratamentos médicos, a fim de entender a evolução daquilo que está sendo testado.
“Todo estudo clínico de alguma formulação, medicação, ou vacina, precisa de um grupo de controle. É nesse chamado 'grupo controle' que você vai comparar o efeito da intervenção que você está testando, por isso, alguns participantes ao invés de receberem a intervenção medicamentosa recebem o placebo”.
O médico explica que o placebo nada mais é do que uma formulação, que pode ser em comprimido ou solução para injetar endovenosa e intramuscular que é semelhante à medicação, ou a vacina que está sendo testada, mas, não tem nenhum efeito terapêutico.
“Não existe nenhum princípio ativo dentro dessa formulação, contudo, a aparência é idêntica à da medicação que está sendo testada [...] A diferença é que uma carrega o princípio ativo, no caso da Coronavac a vacina, e o placebo não vai carregar nada, se tratando apenas de um soro fisiológico”, detalha Fabio.
A pesquisa
Para um estudo funcionar é necessário uma base de comparação, por isso, o placebo é tão importante para a medicina. “Com os grupos testados expostos à mesma evolução e situação ambiental, você tem uma comparação do efeito daquela substância testada, com outro grupo que não traz a substância”, diz o profissional.
Para entender se o medicamento ou vacina que está sendo testado é eficaz, a pesquisa de dados é essencial para comparar, analisar os efeitos, controlar as reações e acompanhar a evolução do procedimento terapêutico daqueles que receberam o medicamento, ou, no caso da pandemia a vacina contra a Covid-19.
“No final do estudo comparamos as amostras da população para ver se a única coisa que mudou nas populações iguais em: idade, gênero e doenças associadas, em comparação aos dois grupos, foi a intervenção”.
Resultados
Agora, após as vacinas e o placebo terem sido aplicados nos voluntários dos estudos para o desenvolvimento do imunizante contra o novo coronavírus, sabe-se que as expectativas estão voltadas para a chamada ‘quebra do cego’ do estudo.
Trata-se de uma medida extraordinária que só será tomada em decorrência do uso emergencial do imunizante, para que o participante do estudo saiba em qual grupo ele esteve, a fim de que possa se vacinar caso esteja no grupo placebo/grupo controle, como nos explica Jennings:
“É uma situação de exceção que ocorre somente quando há um efeito grave em algum voluntário participante do estudo e é necessário saber se aquela pessoa tomou a vacina ou o placebo. Ou em casos da substância já ser aprovada para uso emergencial, como é o caso da vacina de Oxford e da Coronavac”.
O médico pontua que a expectativa não envolve somente os participantes do estudo, mas, o fato de que a vacina seja produzida em larga escala para toda a população. “A preocupação agora não é só a quebra do estudo para os mais de 10 mil voluntários que participaram da pesquisa em todo o Brasil todo, mas, que essa vacina se torne acessível para todos, visto que a efetividade e a segurança já foram comprovadas”.
Efeito placebo
Outra dúvida recorrente que surge quando o assunto é placebo, é se quem recebe a substância neutra pode apresentar algum tipo de melhora em seu quadro clínico. O Dr. Fabio Jennings reitera que isso não acontece quando estamos falando de infecções. Contudo, o chamado ‘efeito placebo’, pode sim surgir em outros casos.
“A gente sabe que nos estudos em geral, o efeito de uma intervenção sem nenhum princípio ativo tem uma chance de até 30% em melhorar a condição analisada”, afirma o reumatologista.
“Dentro desses 30% vão estar justamente àqueles indivíduos que iriam melhorar de qualquer forma com ou sem a intervenção. Também é necessário contar com o efeito psicológico que acontece quando a pessoa acredita que está recebendo alguma medicação. Esse efeito acontece especialmente naquelas doenças que têm um fundo psicológico que envolvem dor e coisas do tipo, assim, a pessoa que recebeu se sente protegida”, finaliza o médico.
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