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Matérias / Personagem

Margaret Hamilton, a cientista que teve uma ação decisiva para o sucesso da missão Apollo 11

Criadora da engenharia de softwares, ela foi responsável por um longo código que possibilitou a chegada do homem à Lua

André Nogueira Publicado em 19/05/2020, às 13h30 - Atualizado em 16/07/2022, às 06h00

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Hamilton em operação - Draper Laboratory via Wikimedia Commons
Hamilton em operação - Draper Laboratory via Wikimedia Commons

Por trás da chegada do Homem à Lua, com o projeto Apollo 11, houve muito trabalho pouco conhecido, que passou por horas de esforço técnico, contatos com a ciência alemã, investigação de progressos soviéticos e um grande investimento na indústria aeroespacial. Alguns nomes tão, ou até mais, importantes do que Neil Armstrong e Buzz Aldrin não possuem a mesma fama que os astronautas, mas foram essenciais para o sucesso do programa.

Um desses nomes é o de Margaret Hamilton, uma cientista da computação responsável pela elaboração do trajeto da cápsula lunar que mandou o primeiro ser humano ao nosso satélite natural – o que foi um dos maiores artífices da propaganda estadunidense durante a Guerra Fria, após sucessivas vitórias de Moscou com Laika, o Sputnik e o voo de Gagarin.

Nascida em Indiana, essa engenheira chegou a dirigir a Divisão de Softwares do Massachusetts Institute of Technology antes de desenvolver o programa de voo da Apollo.

Com uma larga atividade científica, ela possui um grande número de trabalhos em programas espaciais e tecnológicos dos EUA, incluindo a passagem pela NASA em que foi decisiva para que o pouso na Lua não fosse abortado por erro humano. Entre seus legados, está a criação do conceito de Engenharia de Software.

Matemática de formação, Margaret possui um mestrado em meteorologia e pós-graduação em matemática pura, área cuja presença feminina é bastante estigmatizada. Numa época em que a programação era rústica e não havia programas de inteligência, ou seja, a fabricação de sistemas era na mão, ela se destacou em projetos de desenvolvimento de programas de previsão do tempo.

Margaret Hamilton em operação / Crédito: NASA via Wikimedia Commons

Antes de entrar na NASA, ela ainda integrou o Projeto SAGE do MIT, em que desenvolveu o software do computador XD-1 responsável por interceptar aeronaves inimigas no espaço aéreo estadunidense. Com ascendente destaque em sua área, ela foi convidada pelo MIT a participar dos programas da universidade que faziam parte das missões espaciais da Apollo.

Nessa posição, dirigiu os projetos de sistematização da Apollo e do projeto Skylab, desenvolvendo os sistemas de direcionamento dos objetos lançados ao espaço, assim como os comandos para pouso na lua e navegação. Sua produção se tornou básica para futuros lançamentos.

Responsável pelo extenso código que proporcionou o direcionamento da cápsula Apollo CSM-107, lançado pelo foguete Saturn V em Cabo Canaveral, Hamilton foi responsável direta pelo não abortamento da chegada do Módulo Eagle na superfície lunar, após uma confusão gerada no interior da espaçonave. Faltando apenas três minutos para a sequência de pouso, uma série de alarmes de segurança foi acionada, recomendando dar fim à rota.

Acontece que o radar do Módulo Eagle ficou sobrecarregado com as informações captadas pelo radar com a aproximação com o corpo celeste, o que não era essencial para o pouso e foi causado por má condução dos equipamentos pelos astronautas. Quando se discutia o abortamento do pouso, Hamilton assumiu o comando da operação, impedindo a catástrofe.

Margaret em 1989 / Crédito: NASA via Wikimedia Commons

Isso porque o código produzido por ela continuou funcionando perfeitamente, devido sua arquitetura robusta, e não valia de interferência qualquer em nome da desistência da rota. Como ela conhecia todo o programa, sabia que o computador de bordo manteria as atividades prioritárias, desativando as não essenciais como o radar.

Então, era claro, para quem conhecia o código, que o módulo seria plenamente capaz de realizar o pouso e que abortá-lo seria errado. Os mecanismos de alerta, como o radar que apitava, seriam desligados no momento do pouso (alunissagem), não necessitando de controle humano.

Nas palavras de própria Margaret, “se o computador não tivesse reconhecido esse problema e se recuperado, duvido que a Apollo 11 tivesse pousado na lua com sucesso”. Isso porque, se fosse baseada na ação humana, a rota de pouso sofreria com a interferência do interruptor do radar que estava na posição errada.

Chegada de Neil Armstrong na Lua / Crédito: NASA

“O computador (ou melhor, o software) foi inteligente o suficiente para reconhecer que estava sendo requisitado a executar mais tarefas do que devia. Então ele mandou um alarme, que queria dizer ao astronauta 'Eu estou sobrecarregado com mais tarefas do que devia estar fazendo agora e vou manter só as tarefas mais importantes'... Na verdade, o computador foi programado para mais do que reconhecer condições de erro.”

A participação decisiva de Hamilton no pouso da Lua, seja na administração no momento de confusão, seja na elaboração do código que salvo a operação, foi única e essencial naquele momento histórico. Sua ação a levou a ser laureada com a Medalha Presidencial da Liberdade em 2016, pelo presidente Barack Obama.


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