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Matérias / Monarquia

Mafalda de Sabóia: a desgraça de uma princesa no campo de concentração

Durante a Segunda Guerra, a realeza italiana foi alvo dos alemães em Buchenwald, onde cerca de 56 mil pessoas foram exterminadas

Vanessa Centamori Publicado em 15/07/2020, às 10h58

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Wikimedia Commons - Mafalda de Sabóia com os filhos Moritz e Heinrich
Wikimedia Commons - Mafalda de Sabóia com os filhos Moritz e Heinrich

A história de Mafalda de Sabóia não teve um "viveram felizes para sempre". Muito pelo contrário, a alteza real também foi alvo dos horrores da Segunda Guerra Mundial. Acabou nas mãos do Terceiro Reich, no campo de concentração de Buchenwald, sendo tratada como plebeia — e ainda pior: de modo desumano. 

Infância 

A filha do rei da Itália, Victor Emmanuel III, e sua esposa, a rainha Elena Montenegro, nasceu em Roma, em novembro de 1902. Passou uma infância nos moldes da realeza, cercada de luxo, e ao lado de sua mãe, que a incentivou a amar a música e as artes. 

A princesa Mafalda tinha um irmão, o futuro rei Umberto II da Itália, que era dois anos mais novo, e foi o último monarca italiano. Além disso, a família da realeza acabou envolvida na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), de modo que a mãe da princesa a levava em visitas para ver feridos em hospitais militares italianos. 

A princesa Mafalda de Sabóia, durante a infância / Crédito: Wikimedia Commons 

Casamento e Segunda Guerra

Quando Mafalda completou 23 anos de idade, ela se casou, em 1925, com o sobrinho de Guilherme II, o antigo kaiser alemão (agora Benito Mussolini já governava há três anos). O marido da princesa se chamava Philipp de Hesse-Cassel e com ele ela teve quatro filhos.

Cinco anos após o casamento, Philipp se aliou ao Partido Nazista. E Adolf Hitler passou a ser Chanceler em 1933. Como o príncipe era da realeza alemã, e casado com uma italiana, ele passou a atuar como intermediário entre a Alemanha e a Itália, duas nações que estariam no mesmo lado na Segunda Guerra.

Na noite de 26 de março de 1935, o príncipe alemão e a princesa foram em um jantar diplomático oferecido por Hitler, em Berlim, com quem trocavam relação favorável. Dez anos depois, as coisas mudariam completamente. 

Imagem do campo de concentração de Buchenwald /Crédito: Wikimedia Commons 

Perseguição 

Philipp se desentendeu com os nazistas, sendo preso em 1943, data da derrota militar dos italianos na Segunda Guerra. Os filhos do alemão com a italiana recebem refúgio no Vaticano.

Mussolini foi destituído, o pai de Mafalda voltou a assumir o cargo de líder de Itália, e pediu um armistício. Hitler, sentindo-se traído, mandou capturar todos os membros da família real italiana. E criou uma aversão à princesa Mafalda. Tanto que, seu ministro da propaganda nazista, Joseph Goebbels, escreveu em diários que Mafalda de Saboia era "a maior cadela (grösste Rabenaas) de toda a casa real italiana".

Ela, por sua vez, ficou sabendo da prisão do marido e que ele foi enviado ao campo de concentração de Flossenbürg. Mais tarde, o homem só seria liberto pelos nazistas dois anos depois de ser preso, mas depois foi apreendido pelos americanos no mesmo ano em que foi solto. 

Prisioneiros do campo de concentração de Buchenwald /Crédito: Wikimedia Commons 

Campo de concentração

A Gestapo prendeu a princesa Mafalda em Roma. Ela foi levada para Munique para interrogatório, depois para Berlim, até que foi trazida ao campo de concentração de Buchenwald. No local, morreram cerca de 56 mil pessoas.

No campo nazista, ela foi bastante humilhada e viveu em condições desumanas, passando fome e sofrendo de doenças. No entanto, teve alguns privilégios, como poder comer ao menos pão com manteiga e sopa.

No dia 24 de agosto de 1944, Buchenwald foi bombardeado pela tropa dos aliados, que lutavam contra os alemães. Mafalda ficou gravemente ferida por queimaduras agoniantes no braço e foi levada a um doutor chamado Schiedlausky, que atuava no campo de concentração. 

Esse episódio é descrito pelo livro The Theory and Practice of Hell (1950), De Eugen Kogon. Segundo a obra, a paciente morreu no dia 28 de agosto, com 42 anos, ao perder muito sangue durante uma cirurgia de amputação do braço. Seu corpo foi jogado em uma vala comum. 

A morte da princesa só fora confirmada após a rendição da Alemanha aos Aliados, em 1945. A família real italiana recebeu aquela triste notícia e seus restos mortais foram encaminhados para que ela pudesse ser reenterrada em Kronberg, na Alemanha. Philip, o marido da realeza, só foi liberto pelos aliados em 1947 e morreu em Roma, Itália, em 1980. 


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