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Matérias / Brasil

Livro reconstitui os levantes que abalaram a Bahia no século XIX

Em Bahia de todos os negros, as vidas de Luiz Gama e sua mãe são os fios condutores da abrangente reconstituição dos levantes que ajudaram a forjar o Brasil atual

Redação Publicado em 19/12/2021, às 09h00

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Imagem meramente ilustrativa - Divulgação e Domínio Público
Imagem meramente ilustrativa - Divulgação e Domínio Público

Em um momento de resgate da figura de Luiz Gama como um dos grandes nomes do abolicionismo no século XIX e da ancestralidade africana na identidade dos negros no Brasil, o selo História Real, da Intrínseca, lança luz sobre um recorte da história deste personagem em Bahia de todos os negros.

Ao unir História e reportagem, o jornalista Fernando Granato reconstitui os levantes que abalaram a Bahia no século XIX pela perspectiva do célebre advogado abolicionista, que acaba de receber o título de doutor honoris causa pela USP, e sua mãe Luíza Mahin.

Vencedor do Prêmio Imprensa Embratel e indicado ao Jabuti de Reportagem, o autor pesquisou nos autos das devassas produzidos no decorrer dos processos judiciais provenientes da Revolta dos Malês (1835) — o maior levante escravo urbano ocorrido no Brasil — e da Sabinada (1837), que tinha como objetivo a independência da Bahia em relação ao poder imperial.

Além da historiografia oficial existente e de fontes primárias, como os relatos orais de remanescentes de irmandades religiosas. O escritor e jornalista realizou uma pesquisa de campo minuciosa ao visitar todos os cenários dos conflitos que ainda existem, para poder descrevê-los.

Como ponto de partida, Granato usa uma carta autobiográfica que Gama enviou, em 1881, ao amigo Lúcio de Mendonça, para ser publicada no Almanaque Literário de São Paulo. No escrito, fica bem evidente o espírito aguerrido da mãe, que teve um papel importante nos levantes.

“Minha mãe era baixa de estatura, magra, bonita, a cor era de um preto retinto e sem lustro, tinha os dentes alvíssimos como a neve, era muito altiva, geniosa, insofrida e vingativa. Dava-se ao comércio – era quitandeira, muito laboriosa, e mais de uma vez, na Bahia, foi presa como suspeita de envolver-se em planos de insurreição de escravos, que não tiveram efeito”.

As vidas de mãe e filho, que tem suas histórias entrelaçadas com as rebeliões, são os fios condutores da narrativa. Longe do academicismo, o autor apresenta em ordem cronológica os acontecimentos que sacudiram a Bahia e o Brasil no século XIX. Em uma narrativa fluida, Fernando Granato mostra como as duas revoltas são fundamentais para a compreensão do Brasil.

“Tais acontecimentos foram primordiais para a confecção da própria identidade brasileira. Em última análise, o que se pretendeu foi jogar luz sobre um passado indispensável à compreensão de nosso presente”, avalia o autor.

Bahia de todos os negros revisita episódios de um passado indispensável à compreensão do presente — histórias reais que ajudam a pensar os dilemas de um Brasil que ainda precisa se conhecer.


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FERNANDO GRANATO é escritor e jornalista, vencedor do Prêmio Imprensa Embratel e indicado ao Jabuti de Reportagem por suas publicações sobre a vida e a obra de Guimarães Rosa. Escreve para os cadernos de cultura do Estadão e da Folha de S.Paulo.