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Matérias / Personagem

Lincoln Gordon: o responsável pelo apoio americano no Golpe de 1964

O embaixador americano no Brasil enviou um telegrama ultrassecreto pedindo apoio dos Estados Unidos para impedir que o Brasil conspirasse com o Partido Comunista

Daniela Bazi Publicado em 17/12/2019, às 13h52

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Lincoln Gordon aos 60 anos, em 1970 - Getty Images
Lincoln Gordon aos 60 anos, em 1970 - Getty Images

Lincoln Gordon era embaixador dos Estados Unidos no Brasil, e foi um dos responsáveis pelas operações americanas que apoiaram o golpe de Estado de 1964. Apesar de ser um dos principais nomes no ato, ele insistiu durante anos que tudo havia sido “100% brasileiro”.

Nascido em 1913, na cidade de Nova Iorque, Gordon esteve do Brasil como embaixador americano de 1961 a 1966. No ano de 1960, foi um dos desenvolvedores do programa Aliança em Progresso, que consistia na ajuda do governo dos Estados Unidos à América Latina, com o intuito de evitar que os países do continente aderissem ao socialismo.

Já no Brasil, no dia 27 de março de 1964, Lincoln enviou um telegrama ultrassecreto ao governo americano pedindo ajuda com o envio de armas e remessas de gás e combustível para apoiar o golpe de Castello Branco. De acordo com Gordon, Goulart estava “buscando poderes ditatoriais” e conspirando com o Partido Comunista Brasileiro.

Lincoln Gordon apresenta credenciais a João Goulart, em 1961 / Créditos: Wikimedia Commons

Em sua carta, ele escreveu "tanto eu quanto meus assessores acreditamos que nosso apoio deve ser dado aos golpistas para ajudar a advertir um desastre grande aqui - que pode transformar o Brasil na China na década de 1960".

Com esse pensamento, dava-se início então a operação Brother Sam que, segundo a imprensa e documentos liberados pelo governo americano, contava com o envio de uma esquadrilha de aviões de caça, um porta-aviões classe Florestal, um encouraçado, um navio de transporte de tropas e 25 aviões C-135 para o transporte de material bélico.

Além disso, também foi relatado que havia sido enviadas 100 toneladas de armas com munições, seis destroieres, navios petroleiros com capacidade de 130 mil barris de combustível e um navio de transporte de helicópteros com carga de 50 aeronaves com tripulação e armamento completo.

Gordon queria que a intervenção acontecesse imediatamente. Caso o golpe não ocorrose conforme o planejado, o Brasil teria sido invadido, já que a Frota do Caribe se encontrava próximo da cidade do Rio de Janeiro.

O ativista político norte-americano Noam Chomsky comentou sobre o papel de Gordon no Golpe de 1964 durante uma palestra em 1985 na Unievrsidade de Harvard:

“Em um caso, o do Brasil, o país mais importante da América Latina, houve o que foi chamado de "milagre econômico" nas últimas duas décadas, mesmo que tenhamos destruído a democracia brasileira através do apoio a um golpe militar em 1964. Nós instalamos o primeiro verdadeiro grande estado de segurança nacional, estado semi-nazista da América Latina, com tortura de alta-tecnologia e assim por diante. Gordon o chamava de "totalmente democrático", "o melhor governo que o Brasil já teve". Bem, houve um aumento no milagre econômico e houve um aumento no PIB. Mas houve também um aumento no sofrimento para grande parte da população.”.

No mês de outubro de 1968, pouco antes do Ato Institucional nº 5 (AI-5) ser promulgado, Gordon afirmou que o regime tinha uma natureza semiautoritária, mas mesmo assim não deixou de elogiar as conquistas dos militares. Segundo ele "em casos como o do Brasil, o caráter semiautoritário do regime é combinado com uma imprensa livre bastante crítica, congresso eleito, e um conjunto de legislaturas estaduais e municipais, bem como vida política intensa".

Marechal Castello Branco com militares do exército brasileiro / Créditos: Getty Images

Distanciamento do Brasil

Lincoln começou a se distanciar do governo do Brasil após a grande pressão internacional com denúncias sobre as novas medidas impostas pelo AI-5. Gordon se afastou definitivamente em 1977. Ele demorou anos para assumir o seu desapontamento com os militares brasileiros.

Ao visitar o Brasil em 1979, o ex-embaixador revelou que ficou chocado com o desvirtuamento do movimento político-militar do golpe de 1964. E esclareceu também que, inicialmente, esperava-se um período curto, e não um regime militar que se prolongou por 15 anos.

Lincoln Gordon morreu em Mitchellville, aos 96 anos de idade em uma casa de repouso para idosos, em 19 de dezembro de 2009.


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