Em 1930, o país estava na rota das mais colossais máquinas voadoras
21 de maio de 1930: ao entardecer, um enorme objeto em formato de charuto paira sobre Jiquiá, bairro do Recife (PE). A população, maravilhada, observa os movimentos daquele gigante prateado e brilhante. Hoje os desavisados e sonhadores se perguntariam se estavam diante de uma nave de outro planeta. Mas, naquele dia distante, quase todos sabiam que se tratava do dirigível LZ 127 Graf Zeppelin, o primeiro objeto voador a dar a volta ao mundo (em 1929), que fazia sua primeira viagem ao Brasil.
Construído pela empresa de Ferdinand Von Zeppelin, o objeto reluzia dias após ter cruzado os 7,7 mil km que separam Pernambuco de Friedrichshafen (sul da Alemanha), de onde tinha partido no dia 18. Em terra, um número de pessoas três vezes maior que o dos tripulantes faz a atracação, num festival de cordas e escaladas que renderia àqueles homens o apelido de "aranhas". A torre de amarração de Recife é a única do mundo preservada tal como naqueles dias, em que os dirigíveis eram os senhores do céu.
No dia 25 de maio, era a vez de os cariocas se deslumbrarem com o Graf. "Nós subimos as escadas correndo e do alpendre vimos o colossal Graf Zeppelin flutuar sobre nós, a luz do sol refletindo em suas laterais prateadas. Pessoas olhavam pelas janelas de uma gôndola pendurada no lado de baixo dele. Quando circulava em nossa cidade com suavidade e graça, ele passou diante do sol e lançou uma sombra gigantesca sobre nós", descreveu Alicia Momsen Miller, 5 anos, que foi chamada pela mãe para ver a novidade passando sobre o quintal de sua casa, no Rio de Janeiro. O pai de Alicia, natural de Milwaukee (EUA), havia sido enviado a trabalho ao Brasil alguns anos antes.
O entusiasmo dos brasileiros foi tamanho que os alemães decidiram estabelecer uma linha regular entre Frankfurt e Rio de Janeiro, com escala em Recife. Em 1933, técnicos da Luftschiffbau Zeppelin vieram à então capital federal procurar lugares adequados para instalar campos de pouso e hangares. Escolheram uma área no bairro de Santa Cruz, na zona oeste do Rio. As obras começaram no ano seguinte. O projeto, as técnicas de montagem e a maior parte dos materiais usados vieram da Alemanha.
Em 26 de dezembro de 1936, o presidente Getúlio Vargas comandou a inauguração do aeródromo Bartolomeu de Gusmão, com um hangar de 58 m de altura e uma fábrica de hidrogênio (o gás que inflava os dirigíveis e os fazia flutuar) além de escritórios, alojamentos, um prédio para mistura e depósito dos gases e uma linha de trem para levar os viajantes ao centro da cidade.
Mas o aeroporto de zepelins carioca durou pouco. O acidente com o Hindenburg em Nova Jersey (EUA), em 6 de maio de 1937, feriu de morte a credibilidade do meio de transporte. O Hindenburg havia feito quatro viagens Europa-Brasil-Europa - numa delas, em 1936, levou o maestro Heitor Villa-Lobos a bordo. Pela primeira vez, uma tragédia de tal magnitude era vista por milhões de pessoas - além das centenas de curiosos no local, havia cinegrafistas (as imagens seriam exibidas em cinemas) e radialistas registrando o que deveria ser mais um pouso tranquilo do top de linha da Deutsche Zeppelin-Reederei.
Das 97 pessoas a bordo, 36 morreram carbonizadas ou ao pular do dirigível em chamas. O início da 2ª Guerra foi a pá de cal. O Bartolomeu de Gusmão virou base militar. Mas seu hangar hoje é o único no mundo dedicado a zepelins que ainda está de pé.
Na guerra, a Marinha americana produziu modelos menores e mais seguros, unindo os conceitos alemães aos desenvolvidos por Santos Dumont entre 1898 e 1904. Foram usados para escoltar navios e detectar submarinos inimigos. Seu glamour, no entanto, já tinha ido pelos ares para sempre.