Consideradas heroínas pela FLN, mulheres ajudaram a decidir os rumos da guerra
Durante a Guerra do Vietnã — ocorrida entre 1955 a 1975 — a participação feminina foi fundamental para decidir os rumos da história do país. Em um contexto de Guerra Fria, o conflito originou-se por conta da polarização entre capitalismo e comunismo. O exército norte-vietnamita apoiado pela União Soviética guerreou contra os sul-vietnamitas, apoiados pelos Estados Unidos.
O escritor Michael Fiel explica em seu livro, Vento Leste na Indochina, que os soldados norte-americanos tinham a concepção que todo homem vietnamita era ladrão e toda mulher era prostituta. O assédio sexual e estupros eram comuns entre os soldados estrangeiros que acreditavam serem donos dessas mulheres.
“É preciso admitir que um aspecto dos velhos tempos insiste em persistir: a presunção do homem branco de que todas as mulheres amarelas são feitas para serem possuídas”, explica o autor em sua obra.
Embora a mulher fosse considerada inferior ao homem perante a família tradicional do Vietnã, durante a guerra ela exerceu funções de extrema importância. Em um documento lançado pela Frente de Libertação Nacional, as tarefas revolucionárias deveriam ser compartilhadas de forma igualitária, independente do gênero.
“As mulheres representam metade da população do país e pelo menos metade do esforço revolucionário. Se as mulheres não participarem da revolução, ela fracassará. Além disso, uma sociedade não pode progredir se os seus membros femininos se atrasarem”, mostra trecho do documento revelado pela FLN.
No livro O Gosto da Guerra, o jornalista José Hamilton Ribeiro relata detalhes desse conflito armado. No tempo que ficou no país, como correspondente, ele pôde conhecer de perto a realidade enfrentada pelas mulheres vietnamitas. Ribeiro explica que muitas atuaram como espiãs, infiltradas no lado sul do país.
Conhecidas como fofoqueiras, estas mulheres eram responsáveis por descobrir e repassar informações dos inimigos. “O papel das fofoqueiras é deixar bem claro três coisas: o vietcongue é organizado, sabe de tudo e tem força para executar o que decidir; ele é impecável, mas é justo — atrás de cada um de seus atos existem mil razões e o vietcongue não tolera traição”, explica o correspondente em sua obra.
Em áreas que a FLN assumia o controle, a defesa das aldeias era feita por mulheres. As combatentes aprenderam a domesticar marimbondos, os quais elas soltavam sempre que avistavam ameaças. Douglas Pike, explica em seu livro O Vietcongue que as guerrilheiras desenvolveram armadilhas eficazes contra os norte-americanos, como fossos e obstáculos nas estradas.
Além de atuar na luta armada, a educação de adultos era responsabilidade das mulheres, com o objetivo de doutrinar a população. A assistência médica também era executada por elas. No entanto, José Hamilton Ribeiro explica que vietnamitas consideradas impuras não tinham direito de participar da revolução.
Até hoje essas mulheres são vistas como símbolo de luta no país e consideradas de extrema importância pela militância do país. “Para a FLN, as mulheres vietnamitas são heroínas. Por suas virtudes de resistência, de paciência, de disposição para o trabalho árduo e para o sacrifício”, afirma José Hamilton Ribeiro.