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Matérias / Mundo

A história do homem que descobriu ser prova viva de um massacre

Oscar Ramírez foi criado pelo soldado que matou sua família, fato que só viria a conhecer depois dos 30 anos

Redação Publicado em 19/06/2022, às 12h17

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Imagem de Óscar quando jovem, juntamente de seu sequestrador - Divulgação/ Finding Oscar/ Filmrise
Imagem de Óscar quando jovem, juntamente de seu sequestrador - Divulgação/ Finding Oscar/ Filmrise

Em 2011, Óscar Alfredo Ramírez, então aos 31 anos, descobriu uma verdade terrível a respeito de si mesmo. O homem, que vivia nos Estados Unidos sob a condição de imigrante ilegal, recebeu um e-mail afirmando que ele era um sobrevivente de um massacre ocorrido na Guatemala durante os anos 80. 

Na época, o país vivia uma guerra civil, com o governo militar ditatorial liderado pelo político Efraín Ríos Montt combatendo guerrilheiros de esquerda. Foi neste contexto que ocorreu a chacina da vila Dos Erres, onde se estima mais de 200 pessoas tenham sido assassinadas, conforme repercutido pela BBC em 2017. 

O episódio sangrento marcou a história da Guatemala, os parentes dos executados passaram décadas buscando por justiça. Um dos passos mais importantes nesta busca era confirmar o envolvimento do governo na matança. 

Prova viva

Era aí que entrava Óscar, bem ao centro de uma narrativa histórica do qual não fazia ideia até receber um e-mail de Sara Romero, uma investigadora da Unidade de Casos Especiais do Conflito Armado Interno da Procuradoria de Direitos Humanos da Guatemala. 

Isso porque o homem havia sido sequestrado por um soldado de elite das Forças Armadas do país, Óscar Ovidio Ramírez Ramos, quando tinha apenas três anos de idade. 

Até aquele momento, o morador dos Estados Unidos pensava na figura, que havia falecido em um acidente de carro quando ele tinha quatro anos, como seu pai. A notícia de que ele era, na verdade, não apenas seu raptor, mas também um dos responsáveis por massacrar sua verdadeira família, era arrasadora.

As informações foram confirmadas por um teste de DNA realizado por Óscar posteriormente: sua mãe, cinco irmãs e dois irmãos haviam morrido em Dos Erres. Seu pai biológico, por outro lado, sobrevivera por estar fazendo uma viagem na data do massacre. 

Aos 31 anos, o homem descobriu que sua real identidade é Alfredo Castañeda, filho de Tranquilino Castañeda

Pedaço de história

Os moradores de Dos Erres foram executados após recusarem-se a colaborar com tropas de elite que estavam à procura de guerrilheiros.

Os camponeses receberam as ordens de realizarem patrulhas, e, quando não quiseram aceitar a tarefa, foram punidos com tortura, estupros e morte, em um dos acontecimentos mais brutais da Guerra Civil da Guatemala, ainda segundo a BBC. 

Tragicamente, os corpos das pessoas assassinadas apenas foram encontrados em 1994, enterrados dentro de uma cova coletiva. Havia 160 indivíduos, com 67 deles sendo crianças de até 12 anos de idade. 

Trecho do documentário "Finding Óscar" que mostra os ossos / Crédito: Divulgação/ Filmrise

Os processos judiciais movidos com o objetivo de punir os responsáveis pela chacina, contudo, prosseguiam em andamento em 2011, quando Óscar descobriu suas origens perturbadoras. 

A busca por parte dos investigadores, assim como o reencontro com seu pai biológico, inspiraram um documentário deSteven Spielberg em 2016, chamado "Finding Oscar" (Ou "Encontrando Óscar", em tradução livre). 

Confira o trailer abaixo.