No século 18, a mulher costumava torturar friamente seus servos como forma de diversão — e foi protegida pelas autoridades durante anos
Darya Nikolaevna Saltykova, mais conhecida como Saltychikha, foi uma nobre do século 18, que ficou famosa por matar e torturar inúmeros servos, principalmente mulheres, chegando a ser comparada com a sádica Condessa Sangrenta, Elizabeth Báthory, que cometia crimes similares na Hungria.
Quando jovem, casou-se com o capitão do Regimento de Cavalaria da Guarda Imperial Russa, Alexandrovich Saltykova, um homem de família rica, que tinha relações com outros nobres da corte. Seu convívio com pessoas de grande status social resultou numa grande pressão, principalmente por Darya ser uma mulher que não sabia ler e não tinha recebido educação.
Entretanto, em 1756, aos 25 anos, após o nascimento de seus dois filhos - Thodore e Nicholas - acabou ficando viúva depois da súbita morte de seu marido. Diante do óbito, a mulher passou a ser proprietária de duas gigantes propriedades com um grande número de servos.
Nessa época, a influência e a riqueza dos nobres eram avaliados a partir do número de servos que tinham, onde eram, normalmente, referidos como almas. Além de trabalharem como escravos, essas pessoas eram agredidas fisicamente por seus nobres com frequência por um tradicional chicote russo feito de couro chamado knout.
As agressões eram aceitáveis pela sociedade, desde que não houvesse morte. Por lei, não existia nada para proteger as almas, já que as autoridades tinham medo de que, caso defendessem os servos, uma grande insurreição fosse acontecer devido a possível insubordinação que seria causada pelo sentimento de segurança.
Darya, por sua vez, era uma mulher completamente metódica e obcecada por limpeza. Tudo sempre deveria estar extremamente limpo do jeito que gostava, ou suas criadas estariam em grandes problemas. Ela costumava pegar qualquer objeto que estivesse por perto, e bater na garota por ter feito um trabalho mal feito. O maior problema é que Saltykova não sabia quando parar.
Em pouco tempo, diversos boatos passaram a circular pela vizinhança sobre as crueldades que aconteciam nas residências da nobre. Tais quais diziam que as criadas eram presas sem comida dentro de uma cabana e sempre eram vistas com manchas de sangue em suas roupas.
Certo dia, os moradores escutaram o barulho de uma carroça saindo de dentro da propriedade de Darya. Ao conferirem, encontraram o corpo de uma criada com sua pele esfolada e seus cabelos arrancados.
A primeira morte causada por Saltykova teria acontecido no ano em que ficou viúva, em 1756. Entretanto, ela só foi receber uma queixa no ano seguinte, pelo assassinato de Anisya Grigorieva e seu filho, que ainda estava na barriga. A nobre chegou a chamar um padre para que pudesse enterrá-la, além dele outras pessoas também acabaram presenciando o crime, mas o clérigo, chocado com a situação, se recusou até que acontecesse uma perícia policial.
Os oficiais foram até a cena do crime e levaram o cadáver até o hospital para que uma análise fosse feita. Entretanto, devido a seu status social, nada foi feito. Eles também conseguiram retirar a queixa, feito pelo marido da vítima, que acabou sendo entregue para a nobre e enviado para o exílio, onde ficou até sua morte.
Ciente de seu poder e impunidade, Darya continuou a matar por motivos torpes. Seja por estarem em seu caminho, por simples erros, ou simplesmente por existirem e serem sua responsabilidade. Saltykova via seus servos como brinquedos, e costumava a forçá-los a cometer diversas atrocidades em sua frente para sua simples diversão.
Era comum que ordenasse para que eles se espancassem, para que depois a mulher tivesse a oportunidade de matá-los. Havia casos de servos masculinos que batiam em suas esposas e parentes em sua presença como forma de entretenimento.
Certa vez, dentro de sua propriedade em Troitskoye, chegou a derramar água fervente em uma camponesa, antes de espancá-la até a morte. Em outras ocasiões, já empurrou de escada de pedra uma criança de apenas 11 anos, e colocou fogo no cabelo de uma mulher.
Seus servos recebiam alimentação apenas uma vez por dia, e muitas vezes eram agredidos por troncos de madeira que deveriam servir como lenha para a lareira. Apesar de diversos criados já terem conseguido fugir e denunciá-la para a polícia, eles sempre acabavam capturados novamente e castigados, sendo que, no melhor dos casos, eles enviados para a morte no exílio.
Durante anos seus crimes passaram impunes e sempre foram encobertados pelas autoridades locais. Caso os padres se recusassem a fazer o enterro das vítimas, a sádica serial killer mandava seu superintendente Martin criar uma documentação falsa sobre a morte, colocando a causa do óbito como uma súbita doença.
Se os assassinatos chegassem até os oficiais, ela simplesmente os subornavam com dinheiro, comida, ou até mesmo doava alguns de seus servos. Um dos policiais chegou a ser tão próximo de Darya que, inclusive, dava dicas de como lidar com as denúncias.
Todavia, sua impunidade chegou ao fim. As famílias das vítimas por Saltykova conseguiram levar todas as acusações para a imperatriz Catarina II, que se interessou pelo caso e organizou uma intensa investigação, conversando com centenas de testemunhas e recolhendo inúmeras provas, prendendo-a para julgamento em 1762.
A análise do caso levou seis anos e, enquanto era julgada pela morte de 138 pessoas, Darya teria apenas dito “Eu não sei de nada, eu não fiz nada”. A nobre acabou sendo condenada pela morte de apenas 38 pessoas.
Pela pena de morte ter sido abolida na Rússia em 1754, Saltykova acabou sendo humilhada em praça pública no ano de 1768, quando foi acorrentada em Moscou em cima de uma plataforma, com uma placa pendurada em seu pescoço onde dizia "Esta mulher torturou e assassinou". Logo após ela foi enviada para a prisão perpétua, onde morreu em 9 de dezembro de 1801.
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