A produção contou com um elenco inesperado: mais de 130 leões, tigres, leopardos, pumas e onças
Efeitos especiais tornaram- se os melhores amigos dos produtores de Hollywood nos últimos anos. Poder fazer com que o espectador assista a literalmente qualquer coisa em uma telona parece ter sido um desejo tornado realidade.
Há alguns anos, porém, não existia tecnologia o suficiente para tal possibilidade: a maioria das coisas que assistíamos era real ou, ao menos, imitava o real. No entanto, alguns filmes não eram assim apenas por falta de equipamento, mas por uma escolha criativa.
Em 1981, o mundo se viu diante do lançamento do filme Homem e as Feras (Roar) que, até hoje, é considerado um dos filmes com as gravações mais perigosas do mundo. Isso porque mais de 130 leões, tigres, leopardos, pumas e onças estavam nos sets de filmagem junto com os atores e produtores.
Tudo começou com Noel Marshall, que chegou a co-produzir ‘O Exorcista’ mais tarde, mas que nunca mais dirigiu um filme, e sua esposa Tippi Hedren, atriz que ficou famosa por sua atuação em ‘Os Pássaros’, de Alfred Hitchcock.
Os dois viajaram para o Zimbábue em 1969, enquanto Hedren estava gravando um filme no país africano. Eles decidiram que queriam gravar com leões de verdade depois de observarem um prédio abandonado que tinha sido tomado por um grupo dos animais.
A ideia inicial, como relatou a revista Entertainment Weekly, era gravar um longa-metragem que contasse a história de um cientista que vivia com grandes felinos. A convivência seria harmônica, mas o pesquisador teria que lidar com caçadores e muitos outros problemas que surgem quando se vive com tais animais.
E, claro, os animais seriam de verdade e estariam no mesmo local que o protagonista durante as gravações. Mas uma ideia louca surgiu: e se eles mesmos criassem filhotes de leão em uma residência? Assim, os animais talvez ficassem ambientados a eles e crescessem menos violentos.
Em 1971, isso foi colocado em prática e felinos foram levados para a casa da família, que tinha três quartos e estava localizada no bairro de Sherman Oaks, na Califórnia. Participariam do filme Marshall, Hedren e seus três filhos, John, Jerry e Melanie Griffith.
Eles esperavam que demorariam mais ou menos seis meses para gravar o filme, mas tudo acabou durando muito mais. Falta de investimento e constantes pausas por ferimentos graves fizeram com que as gravações durassem ao menos três anos.
Os acidentes foram insanos. O cineasta Jan de Bont teve parte do couro cabeludo arrancado e precisou levar 220 pontos. Enquanto montava em um elefante, Tippi Hedren foi arremessada das costas do animal, o que levou a uma perna fraturada e ferimentos na cabeça. Sua filha, Melanie, foi atacada por um leão no rosto, quase perdendo a visão.
Em 2015, à EW, John Marshall disse: “Tivemos inundações, tivemos incêndios, todos nós acabamos no hospital. Havia ocasiões em que nos reuníamos como uma família e dizíamos: 'Acho que devemos desistir disso'. Mas nunca desistimos. Tem a ver com lidar com leões e tigres. Você não pode mostrar medo. Se você demonstrar medo, está morto”.
“Olhando para trás, eu sei como foi estúpido fazer esse filme. Estou surpreso que ninguém morreu”, confessou. O slogan usado como estratégia de marketing foi verdadeiro: “Nenhum animal foi prejudicado durante a realização deste filme. 70 membros do elenco e da equipe foram”.
‘Roar’ foi lançado em 1981, há 40 anos, mas continua intrigando aqueles que são apaixonados por cinema e por tais felinos. Com gravações que poderiam ter terminado em tragédia, o filme se tornou um dos mais insalubres de todos os tempos.
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